
A Religiosidade dos Imigrantes Italianos nos 150 Anos de Imigração no Rio Grande do Sul
Em 1875, quando as primeiras famílias italianas desembarcaram no sul do Brasil, traziam mais que malas, ferramentas ou sementes — carregavam a fé como um bem sagrado, invisível, mas indispensável. Agora, ao celebrarmos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, somos convidados a olhar para essa história não apenas como um marco migratório, mas como uma travessia espiritual que moldou a identidade de milhares de descendentes.
A religiosidade desses imigrantes foi o que os sustentou.
Eram de um interior da Itália profundamente católico, onde a religião era entrelaçada à vida rural, os colonos italianos encontraram em sua fé o abrigo contra as incertezas da nova terra. Sem igrejas ou sacerdotes nos primeiros anos, reuniam-se ao redor de pequenos altares improvisados em casa, rezando o terço em italiano ou dialeto, iluminados por lamparinas e pela saudade.
> “As famílias reuniam-se nas noites frias ao redor de uma imagem de Nossa Senhora trazida da Itália. Ali, entre orações e lágrimas, mantinham viva a esperança de que aquela nova terra se tornasse pátria”
— Trecho do livro “Vida espiritual nas colônias italianas do estado do Rio Grande do Sul”, Dom José Bárea (1925)
? Capelas são a identidade das comunidades
À medida que as colônias prosperavam, erguiam-se capelas — quase sempre construídas com esforço coletivo, com madeira do próprio mato e tijolos moldados à mão. Eram mais que templos: funcionavam como centros de convivência, de ensino e de organização comunitária. Cada santo padroeiro escolhido refletia um pedacinho da Itália deixada para trás.
> “A imagem do padroeiro era como um pedaço da aldeia natal cravado na colônia. Em torno dele, os colonos construíam não apenas a igreja, mas também sua nova identidade”
— Relato oral coletado por Arlindo Battistel, em estudos sobre a religiosidade colonial italiana.
?? A fé que passou de geração em geração
Hoje, ao revisitar os 150 anos da presença italiana, percebemos que essa religiosidade moldou não apenas práticas espirituais, mas também a cultura, o modo de falar, de celebrar e de ser em comunidade. A festa do padroeiro, a procissão de Corpus Christi, as novenas e as promessas aos santos continuam a ecoar pelos vales da Serra Gaúcha e pela Quarta Colônia e por todo o RS.
Os descendentes — bisnetos e tataranetos daqueles imigrantes — muitas vezes não falam mais o dialeto, mas acendem a vela no dia do Santo Antônio com a mesma fé herdada. O sino da capela ainda marca o tempo das comunidades, assim como marcava a vida no Vêneto, no Trentino, na Lombardia.
150 anos de uma fé enraizada na terra
Celebrar 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul é também celebrar uma fé que sobreviveu ao tempo, à distância e às dificuldades. É reconhecer que a religiosidade foi o base das famílias que com muita união deixou esse legado para todos nós.
Essa herança espiritual segue viva — nas missas celebradas em italiano, nas procissões floridas, nos capitéis à beira da estrada e nos pequenos altares caseiros que guardam a memória de um povo que, mesmo longe da Itália, nunca se afastou de Deus.
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