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Opinião: Compromisso com a vida, compromisso com o “nosso lar”

Carl Sagan, famoso astrofísico, cosmólogo, astrônomo, tem um pensamento exemplar a respeito da Terra, planeta em que vivemos, “esse pequeno ponto azul no Universo”, conforme, em 1961, disse, pela primeira vez, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin, ao vê-la do espaço. Para Carl Sagan, a Terra é o nosso único e verdadeiro lar.

Cá, na Terra, estão os que amamos, os restos mortais daqueles que nos precederam – pais, avós -, estamos nós e estarão nossos filhos e nossos netos. Cá, está a água que bebemos, o alimento que nos sacia a fome, a casa que nos abriga – seja o rico palacete ou o “biongo” paupérrimo de povos cujos costumes desconhecemos. Há um ponto em comum entre nós, chama-se vida. Queremos preservar, proteger, cuidar as nossas vidas e as vidas daqueles que amamos. 

Chegamos, porém, a um ponto de insanidade. Quando se diz “mate esse homem”, há uma mãe que ora a recuperação do filho, uma mãe que ora para que ele retome o bom caminho. Quando o filho morre, há uma mãe que pranteia o seu menino, que ela amou e cuidou e, apesar disso, seguiu caminhos indesejados.

Chegamos, porém, a um ponto de insanidade. Destruímos a natureza com o pretenso objetivo de gerar riquezas. O padre francês Jean de Lèry, que esteve no Rio de Janeiro em meados de 1550, perguntou a um velho índio, porque não plantavam como os europeus e ele respondeu-lhe: “Porque a natureza nos serve, tudo que precisamos ela nos dá e tem sido assim por séculos”. O velho índio ainda se disse impressionado que homens eram capazes de arriscar a vida no mar revolto, atravessar o Oceano Atlântico em busca de pau-brasil para “fazerem dinheiro”, trocando a vida por uma aposta na riqueza. 

No poema “Mãos dadas”, escrito em meio à Segunda Guerra Mundial, Carlos Drummond de Andrade refere a tristeza dos que, com ele, partilham aqueles dias, mas vislumbra esperança. É o poeta do seu tempo, dos homens do seu tempo, da vida do seu tempo, porque se compromete com aqueles que vivem no seu tempo e que precisam sobreviver ao seu tempo. Ele não canta um mundo caduco, doentio, que é o mundo dos conflitos, dos enfrentamentos, das guerras; nem canta o mundo futuro, não quer fugir aos compromissos do seu tempo. Com-pro-mis-so! Somos todos passageiros dessa nave, ostentemos riqueza ou amarguemos a fome, dividimos o mesmo planeta. Mas parece que desaprendemos o sentido da bondade, da solidariedade. 

Carl Sagan, por fim, nos lembra que rios de sangue foram derramados ao longo dos séculos para que generais, imperadores – por vezes, insanos, tresloucados – usufruíssem a glória e o triunfo sobre outros generais, imperadores – também, por vezes, insanos, tresloucados, contudo, glória e triunfo são passageiros e o Tribunal da História costuma ser severo com insanos e tresloucados (irresponsáveis, violentos, intolerantes, entre outros).

Limitando-me à seara do pensamento de Sagan, “nesse pequeno ponto azul no Universo”, não nos adianta combater os senhores da guerra, cabe-nos preservar a vida do nosso próximo, sermos amáveis com ele, com a natureza que nos circunda, com os animais, preservarmos e protegermos esse pequeno universo que, no nosso caso, situa-se entre o Vacacaí Grande e o Vacacaí Mirim, terra de nossos ancestrais, o lar que conhecemos, a fonte que nos gera trabalho e que abriga os nossos maiores amores: pais, mães, avós, filhos, netos.

 


  • Elaine dos Santos
  • Professora

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