
IOF - O PEQUENO IMPOSTO QUE PODE RACHAR A REPÚBLICA
O recente aumento do IOF reacendeu um debate que vai além da carga tributária: expõe a tensão crescente entre os Poderes da República e a transformação do orçamento em arma política.
O IOF é um imposto de arrecadação rápida e aplicação imediata, tradicionalmente usado para ajustes pontuais. Mas sua elevação, agora, sinaliza uma manobra mais ousada: o Executivo tenta abrir espaço fiscal sem negociar com o Congresso.
Ao aumentar um tributo que incide sobre crédito, financiamento e cartão, o governo transfere o custo à classe média (C e parte da B), enquanto os benefícios vão para os programas sociais da sua base eleitoral (D e E). A curto prazo, há alívio para os mais pobres; a médio e longo prazo, o risco pode ser oposto — menos empregos e crescimento comercial e industrial travado.
É importante lembrar que, para os programas sociais representarem justiça e merecimento, dois princípios devem caminhar juntos: o da solidariedade - que acolhe, e o matemático - que sustenta. Um sistema que não equilibre generosidade com a sustentabilidade corre o risco de ruir por excesso de intenção e escassez de cálculo.
Nos últimos anos, emendas parlamentares, sobretudo as de relator, tornaram-se moeda de troca. A liberação (ou bloqueio) desses recursos sustenta o jogo de barganha entre Planalto e Congresso. Ambos lucram: o Executivo garante apoio, e os parlamentares abastecem suas bases.
Mas algo mudou. Pela primeira vez em décadas, o Congresso resistiu. Não por súbita preocupação com o povo, mas por cálculo político: 2026 é ano eleitoral. Apoiar demais os programas do governo pode custar votos e mandatos.
Esse cabo de guerra tem consequências. Se o Executivo insiste em contornar o Legislativo, o conflito pode parar no STF, agravando ainda mais a crise institucional. O Congresso pode retaliar, limitando decisões judiciais. O governo, espremido, testa os limites da democracia — até que alguém perca o controle - estaríamos, então, às vésperas de um novo 8 de janeiro, com nova roupagem e protagonistas diferentes?
No fundo, não se trata apenas de um imposto ou de emendas, mas da erosão da confiança institucional. Quando o orçamento vira moeda de troca, a política abandona o bem comum e se transforma em campo de batalha por interesses privados. E, nesse vácuo, prosperam o extremismo e os que desejam o colapso — porque, onde as instituições falham, sobram apenas os tiranos e os ricos para ditar as regras.
A democracia exige equilíbrio. Esticar demais a corda não gera acordos — produz rupturas. E, quando ela arrebenta, é sempre o povo quem paga a conta.
Mauro Falcão, escritor brasileiro
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