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Breves considerações sobre a História de Restinga Sêca


Parte II

Prof. Dra. Elaine dos Santos

Cumpre lembrar que, quando a Guerra dos Farrapos (1835-1845) aconteceu, o Brasil já era oficialmente independente de Portugal, desde 1822, e havia muita coisa a ser feita, entre elas, consolidar as fronteiras na região sul, nas cercanias de Argentina e Uruguai.
Ainda que o Império estivesse concedendo sesmarias a soldados, tropeiros, trabalhadores da demarcação do Tratado de Madri, o sul do Brasil, mais especificamente, o Rio Grande do Sul, era quase campo aberto. Eis que Dom Pedro I investiu na política de imigração europeia.
Dois adendos: a Europa vinha abalada pela fúria napoleônica, que, finalmente, fora derrotado em Waterloo em 1815, mas que desorganizara os territórios inimigos, suas plantações; além disso, sucessivas estiagens devassavam as lavouras, o que levara a miséria e a fome para muitas regiões da Europa, determinando uma quase necessidade de emigração. Ademais, a Imperatriz do Brasil, dona Leopoldina, era austríaca, o que facilitou as negociações com os pequenos reinos, condados, cantões que formavam a antiga Prússia.
Em 1824, chegaram os primeiros alemães a Cabo Frio, ocupando uma antiga colônia suíça fracassada. Na sequência, eles chegariam a Real Feitoria do Linho Cânhamo, atual São Leopoldo. Evidentemente, a Guerra dos Farrapos interrompeu o processo migratório, que seria retomado na sequência.
Em 1855, foi fundada a Colônia de Santo Ângelo, atual município de Agudo. O povoamento, porém, somente aconteceria a partir de 1857. Na verdade, os primeiros colonos foram abandonados nas proximidades na região de Cerro Chato. Desgostosos com o que viram, foram incitados a conhecer o local – quase em sua totalidade, composto por matos – e quando regressaram, eles encontraram apenas as suas bagagens. Não havia transporte para regressar.
Enfim, a colonização prosperou e, ao longo da década de 1860, teve início uma fase de demarcação em locais como Rincão do Paraíso, pertencente a Bento José de Moraes, e Rincão da Contenda, de propriedade de Antonio Gomes da Silva, que compreendem hoje parte do atual município de Paraíso do Sul.
Por outro lado, a prática da compra de terras feita por grandes agenciadores coloniais e a posterior venda para imigrantes ou mesmo a iniciativa particular ensejada pelos imigrantes era comum em toda a região. Martins Pinto, sesmeiro, no território que compreende o atual município de Restinga Seca, passou a vender as suas terras situadas à margem direita do Jacuí, além de Manoel Gonçalves Mostardeiro, na Colônia de Dona Francisca. Portanto, começava a ocupação na margem oposta do rio.
Do lado de cá, na futura Restinga Seca, que hoje conhecemos, prosperaram, de imediato, São Miguel, Vila Rosa (quando passar pela Igreja Evangélica de São Miguel, entre à direita e percorra a Estrada do Imigrante, isso lhe permitirá ter uma ideia do processo imigratório germânico em nosso município), além das regiões adjacentes.
Além da agricultura, os colonos investiram em ferrarias, serrarias, carpintarias, casas comerciais, cervejarias, olarias, engenho descascador de arroz. Houve investimento na educação e na religiosidade, sendo que os pastores evangélicos se encarregavam do ensino.
Em Jacuí, por sua vez, antes que a Ponte do Império perdesse totalmente sua usabilidade, inclusive, para pedestres, iniciava-se uma nova história. Em 1883, a linha férrea que deveria ligar Porto Alegre, capital da Província, a Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, chegara a Cachoeira do Sul. A próxima etapa era transpor o rio Jacuí.
Em 1885, foram inauguradas a ponte que daria passagem aos trens; a estação de Jacuí com uma caixa d’água; a estação de Estiva e, em Restinga Seca, uma caixa d’água, que se destinava ao abastecimento dos trens. Segundo consta, o lugar que já fora conhecido como Restinga Seca, passou a ser denominado Caixa d’água, mas, na virada do século XIX (19) para o século XX (20), assumiria a sua antiga denominação.
Naquela parada para abastecimento dos trens na Caixa d’água somente podiam embarcar e desembarcar passageiros. As encomendas ficavam em Jacuí, Estiva ou Arroio do Só, já no município de Santa Maria. Em suas viagens a Porto Alegre, o comerciante Domingos Mostardeiro, do atual município de Dona Francisca, desembarcava na parada da Caixa D’água, seguia a cavalo ou carreta, pernoitava na casa de Justino Martins Pinto, seu amigo, que lhe sugeriu a construção de uma estação ferroviária às margens da sanga da Restinga.
Não demorou muito para que alguns homens abnegados, sob o comando de Domingos Mostardeiro, postulassem a construção de uma estação também ali, onde o trem parava para abastecer-se com água. Quase ao final do século XIX (19), há algumas discordâncias sobre a data exata de inauguração da estação (1898 ou 1899), segundo o Instituto do Patrimônio e Artístico do Estado (IPHAE), a sede do município principiava a consolidar-se como um povoado.

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