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Breves considerações sobre a História de Restinga Sêca

 

Parte I

 

Prof. Dra. Elaine dos Santos

 

A atividade de pesquisa é um exercício fascinante, descobrir fontes e dialogar com outros pesquisadores pautados pela ética, respeitando quem nos antecedeu faz o conhecimento progredir, a ciência avança, o ser humano e suas concepções do mundo ampliam-se em termos de horizontes de expectativas sobre o ontem, o hoje e o porvir.

A intersecção entre Literatura e História é o meu objeto primordial de pesquisa desde 1993, ano da minha inscrição como pesquisadora no CNPQ. Para entender a Literatura produzida no Rio Grande do Sul, uma das minhas primeiras atividades como bolsista PIBIC/CAPES, entre 1993 e 1996, foi estudar a História do nosso estado.

Anos atrás, uma professora municipal reclamou (como continuam reclamando as professoras municipais) que há falta de fontes de pesquisa sobre o município. O famoso (e quase desaparecido) livro – da capa vermelha - da professora Lacy Cabral Oliveira segue sendo a referência principal.

Ela recupera o achamento do Brasil, o processo de colonização, os 200 anos de atraso para a ocupação do Rio Grande do Sul e, como Erico Verissimo, em "O tempo e o vento" (em termos ficcionais), coloca-nos entre portugueses e indígenas. A novidade? O campo (o cenário) histórico é composto pela batalha às margens do rio Jacuí - o Passo Geral do Jacui (ah, você sabe: quando o Vacacaí Grande dá com os costados e entrega as suas águas para, no dizer de Basílio da Gama, em “O Uraguai”, o caudaloso rio). Era novembro de 1754, o rio estava cheio, tão cheio que colocou as tropas portuguesas na copa das árvores: homens molhados, comida molhada, munição molhada. Os guaranis venciam uma batalha, perderiam a guerra em 1756. No Passo Geral do Jacuí, foi assinado um armistício; os portugueses retornaram para Rio Pardo, temporariamente.

Era o primeiro fato histórico da Terra da Carapau. Depois, uns colonos açorianos, uns soldados passariam por aqui e já refeririam o nome Restinga Secca, não muito distante do Rio Bacacay. Eles eram os demarcadores do Tratado de Madri que cruzavam as terras, manchadas com o sangue dos povos indígenas. O ano era 1787.

Em 1792, seria concedida a primeira sesmaria. Outras sesmarias seriam concedidas ainda naquele século, tanto que Domingos Mostardeiro, no Jornal O Mirim, refere um inventário ocorrido, em 1817, em que consta a partilha de terras legadas na forma de sesmarias.

Em 1820, o francês August Saint Hilaire, o mais famoso viajante europeu, cruzou pela Fazenda Restinga Seca, dormiu no Potreiro da Estiva e, no dia seguinte, em “pirogas”, venceria o Jacuí, pousou na casa do barqueiro e seguiu, depois, para São João da Cachoeira. “Pirogas” eram embarcações indígenas, semelhantes a canoas, que, reunidas em três ou quatro, formavam uma espécie de balsa.

Findada a Guerra dos Farrapos (1835-1845), o Barão de Caxias mandou erigir uma ponte para facilitar o transporte do gado na região central da Província do Rio Grande de São Pedro. Um viajante alemão descreve trabalho, que iniciava e parava - entre 1849 até 1871, quando foi posta em uso e destruída na Guerra da Degola. Um viajante alemão, Avé- Lallemant, passou pelo local, cerca de dez anos depois do início da sua construção e admirou-se com o movimento de tropas e homens, que se valiam da barca existente para a travessia entre Cachoeira do Sul e o território de Restinga Seca, a caminho de Santa Maria. É importante destacar que a estrada (animada, segundo os dizeres do viajante) para Santa Maria cruzava entre os rios Vacacaí Grande e Vacacaí Mirim (considerando que Saint-Hilaire, quase 40 anos antes parece ter percorrido caminho semelhante e passado pela Estância Restinga Seca, hospedando-se em Estiva, deve-se conjecturar que o território não era um deserto, formado por campo e bandos de quero-quero).

Continua.

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