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25/07/2024 - 200 ANOS DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL

Neste 25 de Julho comemora-se, em diversas partes do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os 200 anos da imigração alemã para o Brasil, iniciada em 25 de julho de 1824, quando chegou na Colônia São Leopoldo a primeira leva de imigrantes recrutados pelo emissário de D. Pedro I na Europa Central, que tinha por objetivo povoar o interior do Brasil e diversificar a produção agrícola.
Em 1824 a Alemanha ainda nem era um país unificado. Os reinados, principados e ducados que formavam a Confederação Germânica estavam devastados por constantes guerras, ao mesmo tempo em que houve um súbito crescimento da população, os campos estavam depauperados por colheitas ruins, e a revolução industrial desempregou milhares de artesãos nas cidades, o que resultou em uma população bastante empobrecida e sem perspectivas, para a qual a emigração era a única oportunidade de dias melhores.
Durante o Século XIX, dezenas de colônias foram criadas em diversos estados do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para receber imigrantes alemães dispostos a  trabalhar num sistema de agricultura familiar de minifúndio. Por exemplo, em 1857 é criada a Colônia Santo  ngelo, que recebeu milhares de imigrantes alemães e deu origem aos municípios de Agudo, Dona Francisca, Paraíso do Sul e Cerro Branco, de onde vieram os primeiros povoadores da Colônia São Miguel, berço histórico do município de Restinga Sêca.
E a vida destes imigrantes não foi nada fácil. Uma longa travessia do oceano, que podia durar até 90 dias em navios precários, insalubres e muitas vezes super-lotados. No destino, uma realidade muito diferente do que havia sido prometido. Encontraram apenas densa mata virgem e, abandonados à própria sorte, tiveram que enfrentar, com as próprias mãos e poucas ferramentas, todo um ambiente hostil, defender-se de animais selvagens e índios, construir seus próprios abrigos, limpar a terra para plantar sementes muitas vezes estragadas, conviver com uma língua totalmente estranha e se alimentar com a pouca comida fornecida pelo governo e que não conheciam, como farinha de mandioca e charque.
Já no Século XX, durante o Estado Novo (1937-1945), os descendentes dessa brava gente seriam vítimas de perseguição e toda espécie de restrições de parte do Estado brasileiro na vigência do “programa de nacionalização”, implantado em 1938 pela ditadura Vargas, ações estas intensificadas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, sem que, até hoje, houvesse reparação ou reconhecimento do Estado brasileiro para esta injustificável violência.
Ao longo destes 200 anos, chegaram ao Brasil aproximadamente 250 mil imigrantes alemães. Atualmente, calcula-se em 7,5 milhões o número de seus descendentes em solo brasileiro.
O Rio Grande do Sul foi o Estado que recebeu o maior número de imigrantes alemães, seguido de Santa Catarina. Considera-se que, hoje, quase 25% da população do Rio Grande do Sul e 35% da população de Santa Catarina tenha raízes alemãs.
Ao migrarem da Europa para o Brasil, os imigrantes trouxeram, a maioria, pouquíssimos recursos financeiros, e não foram poucos os que aqui chegaram apenas com a roupa do corpo. 
Mas trouxeram bens culturais e valores que representam um patrimônio imaterial inestimável. O senso de ordem, a dedicação ao trabalho, a diversidade religiosa e a importância dada à educação são alguns dos legados deixados por este povo.
Outro legado é o apego às suas tradições familiares, que se traduzem nas festas e nas celebrações, como as comemorações natalinas e da páscoa, e nos hábitos alimentares, além do apego à cultura, que se traduz na música, no canto coral e no teatro, e também nos esportes, como o Bolão, a ginástica e o Tiro ao alvo. 
Quase todos os imigrantes eram alfabetizados e tinham uma profissão. Além de agricultores, aqui chegaram professores, médicos, homens das ciências, além de milhares de artesãos, entre eles alfaiates, ferreiros, marceneiros, sapateiros e tantos outros que deixaram um legado material importantíssimo. 
Aqui desenvolveu-se um novo modelo agrícola, baseado na pequena propriedade familiar e na ajuda mútua, através de associações e cooperativas, e o Rio Grande do Sul se torna o berço do cooperativismo no Brasil. Nas cidades, os artesãos, a partir de pequenos empreendimentos, nos legaram o embrião de um parque industrial que orgulha seus descendentes.
Diante disso, não há como não ter orgulho em comemorar os 200 anos da imigração alemã para o Brasil e preservar a história e a memória deste povo. A preservação da memória é uma herança para várias gerações, como um bem que carrega consigo a trajetória de um grupo de pessoas, suas lembranças e identidade.

Por Walter H. L. Schley, pesquisador de genealogia e história.da imigração germânica

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