Notas sobre a História de Restinga Seca

                                                                                         Por Profa. Dra. Elaine dos Santos

 

Em 1963, em artigo publicado na “Revista de História” da USP (Universidade de São Paulo), Luiz Prates Carrion registrava, com base no “Diário” do Padre Tadeu Xavier Enis (ou Henis) algumas considerações sobre o município que se emancipara em 1959.

Luiz Prates Carrion, segundo se pode apurar, nasceu em Pelotas no ano de 1918, foi oficial farmacêutico do Exército, integrou o Instituto Genealógico Brasileiro e publicou artigos em revistas de História, Heráldica e Filatelia. Não há registros sobre o seu falecimento.

No artigo publicado na “Revista de História”, o autor indica que iniciou as suas pesquisas rastreando a viagem de Gomes Freire, que se ocupava em uma expedição demarcatória decorrente do Tratado de 1750. Em função dos confrontos com os guaranis e com os jesuítas que não aceitavam as cláusulas daquele contrato entre as duas coroas ibéricas – Espanha e Portugal -, Gomes Freire deslocou-se até Rio Pardo.

Carrion pondera que os pioneiros de 1737, provavelmente, não tenham adentrado a região de Restinga Seca, muito intestina para o interesse daqueles desbravadores, por outro lado, não era caminho para os lagunenses. “Gomes Freire, de Rio Pardo, para onde deslocou-se após as investidas de Sepé e de seus índios, em princípios e em meados de 1754, marchou em agôsto para oeste, atravessou o Rio Pardo (Yobi), denominado também pelos índios de rio Azul e de rio Verde, logo em seguida, o Butucaraí; e atingiu o rio Jacuí, denominado de Yacui ou rio de los Faisões, a 7 de setembro”. (CARRION, 1963, p. 461) O local foi denominado Passo do Jacuí.

            Na margem direita do bom e velho rio Jacuí, acamparam os índios supostamente comandados por Sepé e, na esquerda, teriam acampados os portugueses sob o comando de Gomes Freire, que teria permanecido cerca de dois meses e meio nas imediações. Os índios, naquele ponto, em grande número – Carrion estima, no seu texto, que fossem cerca de 1.500 aborígines -, tencionavam impedir a continuidade da marcha das tropas de Gomes Freire em direção aos Sete Povos e a sua tomada para entrega à Coroa Portuguesa. Havia, portanto, às margens do rio Jacuí, no Passo do Jacuí, um enfrentamento entre índios guaranis e portugueses pela posse da terra gaúcha. Carrion (1963, p. 462) afirma: “Podemos considerar de grande valor histórico o acampamento índio e a assinatura de um convênio ou tratado de envergadura, como foi feito (...). Foi importante a existência do referido acampamento dos índios, tanto que os portuguêses, para seguir para as Missões, só realizaram a marcha em princípios de 1756, e por outro caminho (...).”

            Assim posto, é possível pleitear existência e importância histórica para o território restinguense já no século XVIII, tendo sediado relevante encontro entre tropas guaranis e portugueses durante embates característicos das Guerras Guaraníticas, dado que não é estranho para quem leu “O Uraguai”, poema épico de Basílio da Gama, que narra o amor dos personagens [fictícios] Cacambo e Lindoia, entremeado com fatos históricos, como o encontro de Sepé e Gomes Freire às margens do Yacuí.