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MUDANÇAS NA MÍDIA: Impactos do jornalismo online sobre o jornalismo tradicional

                                                                                                                                                                                            Por Raquel Gomes de Oliveira

Há algumas coisas que nunca deixarão de existir. O jornalismo impresso é uma delas. Entretanto, sua reestruturação é obrigatória. A história se repete nos meios de comunicação provando que um veículo não substitui outro. Primeiro veio a notícia impressa, depois veio o surgimento das notícias pela rádio, que fez com se questionasse a eficiência da informação vinda do papel. Nem o impacto causado pelos aparelhos de televisão fez a rádio ou o jornal se extinguirem. Quando a fotografia surgiu, os pintores se preocuparam com o destino de suas obras. Quando o vídeo se tornou a sensação do momento, pensar que as pessoas podiam se desinteressar por fotografia foi algo que passou na cabeça de milhares de fotógrafos.

Hoje, temos a internet e, por conseqüência, o jornalismo na rede e os questionamentos sobre o futuro do jornal impresso são inevitáveis. Um veículo de comunicação não substitui outro, mas os modelos com os quais se elaboram esses veículos, estes, sim, precisam de atualização constante. Isso implica mudanças em função de tecnologias em permanente evolução e, muitas vezes, são necessárias mudanças de conceitos na elaboração do produto para poder acompanhar as transformações da sociedade.

O jornal do metrô

O jornalismo tradicional gradativamente perde seus leitores para a versão digital e as vantagens que o leitor pode encontrar ao fazer essa troca são muitas – entre elas, a facilidade de local de acesso, a gratuidade que a maioria dos ciberjornais apresenta, uma maior abertura para a interação com o leitor e a diversidade de mídias em um único meio, podendo receber uma notícia, por texto, áudio, vídeo ou infográficos, possibilitando uma leitura não linear e mais abrangente. Entretanto, o jornal impresso tem suas características particulares. Uma, que faz sua principal diferença com o jornalismo online, talvez seja sua maior vantagem: ele é feito em papel.

Pesquisas comprovam que, de modo geral, é mais fácil ler em uma folha do que em uma tela, além do que existe uma relação de toque, de cheiro, que faz com que muitas pessoas prefiram ler em papel. E, principalmente, há a questão do acesso ao meio. A grande maioria da população não tem um computador portátil para levá-lo a qualquer lugar que deseje e, mesmo que tivesse, há lugares que não são recomendáveis para usar um laptop, ou que não permitem conexão com a rede para acessar informação. É mais fácil ter um jornal e levá-lo, sim, a qualquer lugar. Em muitos países, o hábito da leitura de jornais gratuitos no metrô é bastante forte. As pessoas recebem seu jornal pela manhã, ao entrarem na estação, mas esses jornais acabam sendo lidos durante todo o dia por pessoas que vão passando pelo metrô e vão lendo aquele jornal, já lido anteriormente por vários outros leitores. Muitos jornais acompanham seus donos e vão parar em outros lugares e na mão de outras pessoas que não aquelas que usaram o meio de transporte.

Fusão de redações

Outro hábito de leitura de jornais é na sala de esperas dos consultórios em geral; folhear uma revista ou um jornal sempre faz o tempo da espera parecer mais curto.

Em entrevista com o jornalista Ricardo Feltrin, editor-chefe da Folha Online, ele conta que o jornalismo online é o veículo que realmente dará emprego aos novos jornalistas, mas que sempre vai preferir ler uma notícia em papel. E pergunta: ‘Afinal, existe prazer maior do que ler jornal na cama?’ Eu ainda acrescentaria: e tomando um café. Outro prazer é ler no banheiro. Seja o que for, o editorial, uma coluna de opinião, ou até mesmo a parte de humor ou horóscopo. Prazer indescritível.

Se o jornalismo tradicional não vai desaparecer, embora obviamente venha perdendo espaço para o jornalismo online, o que fazer para que o primeiro se restabeleça no mercado? Em sua grande maioria, os jornais tradicionais possuem sua representação na internet, mas um passo decisivo e difícil de acontecer é a sinergia entre ambos os veículos. Quanto maior a coordenação das equipes dos jornais, maior é a possibilidade dos dois suportes jornalísticos crescerem. Infelizmente, essa não é a realidade da maioria dos jornais. Porém, nos casos em que a fusão das redações acontece, os resultados positivos se tornam claramente perceptíveis.

As necessidades do leitor

Folha de S. Paulo é uma empresa que tem suas editorias trabalhando em harmonia e o resultado é que o material que é produzido em uma redação pode ser repassado para outra e vice-versa. Ricardo Feltrin relata que certa vez a redação digital tinha uma reportagem que só eles tinham; entrou em contato com a redação impressa e lhes passou o ‘furo’, que foi publicado na versão impressa antes do que em qualquer outro meio. Em outro momento, jornalistas da versão impressa, quando têm um ‘furo’ mas percebem que rapidamente essa informação será vazada e mais jornais publicarão, contatam a redação digital para que esta, em primeira mão, publique o acontecimento.

O jornalismo impresso deve passar a escrever de maneira objetiva e interessante suas notícias e levar em conta outro aspecto relevante na reestruturação dos modelos tradicionais: a participação dos leitores. No jornalismo online, há uma ampla gama de possibilidades de interação e essa abertura à participação dos leitores desperta grande interesse, sendo cada vez mais fácil comprovar o aumento de cidadãos participando da construção da informação do jornal digital. Esse incentivo à participação do leitor também deve estar presente nos meios tradicionais. A possibilidade de o leitor enviar para o jornal seu texto, sua foto, sua opinião, participar de enquetes e concursos são alternativas de interação que também podem existir no jornal impresso.

O impacto do jornalismo online sobre o jornalismo tradicional já existe há alguns anos. Cabe ao jornal tradicional não ser tão tradicional assim e pensar sempre nas necessidades do seu leitor, unindo forças a este novo jornalismo que está em construção.

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Doutoranda em Ciências da Comunicação e Jornalismo pela Universidad Autônoma de Barcelona

 

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