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Fotos: Tribuna de Restinga
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Como foram os 365 dias de pandemia em Restinga Sêca

OBS: Esta matéria originalmente foi publicada no Especial impresso de 62 anos e agora  entra na intregra aqui no site com a parte restante que foi anunciada no impresso.

No dia 18 de março de 2020 foi apontado o primeiro caso suspeito da Covid-19 em Restinga Sêca. O resultado saiu no dia 22 de março e o resultado foi negativo.  

Já se passou um ano que o município começou uma verdadeira guerra para evitar, o máximo possível, a contaminação da população por um vírus que passou a mexer com a vida dos restinguenses e do mundo.

O primeiro caso confirmado foi no dia 7 de maio de 2020. Em seis meses, os casos avançaram para 96 e em um ano já ultrapassou os 700 casos.

O município adotou medidas como desinfecção dos espaços públicos, suspensão das aulas, fechamento do comércio, entre outras medidas para tentar conter ao máximo a proliferação da doença.

Os números do último Boletim Epidemiológico apontam que o total de casos chega a 707 positivos. Desses, 631 são considerados recuperados, 65 estão em recuperação (ativos). Onze pacientes já morreram pela Covid-19.

Em 2021, o número de infectados teve um aumento muito superior se comparado ao mesmo período de 2020, em que se deu o início da pandemia. No início deste ano foram disponibilizadas as primeiras vacinas, mas que se não houver cuidado e conscientização por parte da população não há como vencer este inimigo invisível e baixar os números de contaminação e de mortes.

As duas áreas mais envolvidas nessa pandemia foram a Secretaria de Saúde Municipal e o Hospital de Caridade São Francisco

A Secretária de Saúde, Jocelaine Brauner, e o diretor do Hospital São Francisco, José Luiz Cavalheiro, falaram sobre esse um ano na luta contra esse vírus e suas percepções diante do momento que estamos vivendo.

Jocelaine Brauner, Secretária de Saúde.

Já se passou um ano e conversamos sobre a visão da Secretária de Saúde e da pessoa Jocelaine diante de todos os acontecimentos até o momento atual.

“Tivemos altos e baixos, momentos que se elevou e momentos que amenizou a situação, mas hoje estamos enfrentando o pior momento desde o início da pandemia, a situação mais grave é a atual. Antes do feriado de carnaval tínhamos poucos casos ativos e suspeitos em Restinga Sêca. Com o feriadão, a falta de conscientização e cuidados diante do cenário, houve uma avalanche de novos casos e os próximos dias ainda continuarão muito preocupantes”.

A Secretária também pontuou um aumento, muito significativo, de casos e de internações de pacientes na Ala Covid.

“Antes não era tão frequente. Nos outros períodos tínhamos um, dois, até três pacientes internados, quando tinha. Agora, foi preciso ampliar os leitos de seis para nove e tem dias que estão todos ocupados”.

Mesmo com o número alto de leitos, ainda há possibilidade de ampliação para 15 leitos, se for necessário, na Ala Covid do Hospital São Francisco.

Ainda há muitas dúvidas da população

Passado esse um ano, a população ainda tem dúvidas de alguns procedimentos, precauções e cuidados que se devem ser tomados contra a Covid-19. Esses questionhamento chegam à própria Secretaria de Saúde do município e, principalmente, aos postos de saúde.

“Chegam dúvidas diariamente nas Unidades de Saúde, no meu whatsapp, na Ala Covid. É uma doença nova, até os especialistas ainda estão conhecendo o vírus, tem mais a questão das mutações que o vírus está sofrendo. Tem pessoas que procuram se informar, ter as orientações corretas, mas infelizmente, mesmo diante do que vivenciamos diariamente pelos veículos de comunicação e aqui mesmo no nosso município, ainda tem o negacionismo diante da doença, enquanto isso, vamos perdendo vidas”.

Jocelaine diz que quase mensalmente mudam os protocolos conforme vai se conhecendo o vírus.

“No início da pandemia, a orientação era para que ao apresentar sintomas não procurassem as unidades de saúde no primeiro momento, só havendo o agravamento. Hoje, a orientação já é diferente, apresentou sintomas, procure o atendimento médico. É muito importante estar informado para agir de forma correta”.

Vacinas

A vacinação chegou ao município com as orientações e critérios vindos do Ministério da Saúde, sendo uma forma a mais de prevenção. Porém, as demais medidas de prevenção devem continuar.

“As vacinas são doses de esperança e todos estão ansiosos para serem imunizados. Mas não sou eu, Secretária da Saúde, não é o prefeito que determina quem vai ser vacinado. Além disso, essa vacinação é nominal, é informado ao Ministério da saúde todos os dados da pessoa que recebeu a dose, estamos seguindo rigorosamente as orientações. Essa parte mais burocrática demora um pouquinho na hora de vacinar, mas precisamos agir com calma e segurança, pois temos que prestar conta de cada dose aplicada. Nossas equipes estão bem capacitadas quanto a isso e realizam um trabalho de excelência”, explica.

Embora a vacinação esteja sendo feita em etapas, por faixa etária, ainda não são disponibilizadas doses suficientes para atender toda a demanda, e isso prejudica o trabalho da Secretaria da Saúde.

“As doses chegam aos poucos e, assim, não conseguimos ofertar muitos pontos de vacinação ou por exemplo fazer roteiros de vacinação. A secretaria está ofertando, além do drive trhu, agendamento nas unidades de saúde. Estamos realizando desta forma para proteger os idosos evitando aglomerações", destaca.

“Pedimos que as pessoas entendam quanto a isso. No cenário atual, não conseguimos pensar e nem agir de forma individual. Nesse momento precisamos de ações que visam a coletividade, contamos com o entendimento das pessoas, cada um se esforça um pouquinho e juntos atingiremos o objetivo que é vacinar todas as pessoas dos grupos prioritários”, complementa.

A reportagem do Tribuna de Restinga fez, no começo da pandemia, um questionamento de qual a visão e o sentimento da pessoa Jocelaine, tirando o cargo, diante da situação que se apresentava. Agora, repetimos a pergunta.

“Eu, Jocelaine, e todos os profissionais de saúde, estamos cansados, mas ainda com força para seguir a luta. Enquanto quase todas as áreas conseguiram se proteger do vírus de alguma forma, seja por escala ou trabalho remoto, nós estamos diariamente na linha de frente. Eu acredito que vamos conseguir vencer esse vírus quando as pessoas entenderem a importância e as consequências de suas atitudes diante da pandemia, quando pararmos de pensar no individual e agirmos de forma coletiva. Essa é uma luta de todos nós, enquanto isso não acontecer, não haverá ações governamentais que darão conta da demanda. Precisamos de mais amor, mais fé, mais orações, mais solidariedade, mais responsabilidade e mais empatia. Que não nos falte fé e esperança nsse momento difícil”.

Com a palavra Jose Luiz Cavalheiro

Entrevistamos também o diretor do Hospital de Caridade São Francisco de Assis, José Luiz Cavalheiro. Ele falou sobre como foi e como está sendo para o hospital lidar durante esse um ano de pandemia no município.

“Devido as condições precárias para seu funcionamento, o Hospital de Caridade São Francisco está sob intervenção e é mantido pelo município desde 2015. Em 2019, ao assumir, continuamos trabalhando e logo em 2020, o mundo vem sendo assolado pela pandemia, que exigiu adequações físicas. Posteriormente, formamos equipe exclusiva composta de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, equipe de apoio e higienização, visando o atendimento aos pacientes portadores da Covid-19, estando à disposição da comunidade 24 horas por dia".

O ano de 2020 foi muito desafiador, surgia a todo o momento problemas diferentes que exigiam providências e atitudes imediatas, devido a gravidade das situações apresentadas. Internamente, o hospital também precisou passar por adequações às normas e protocolos para o atendimento aos pacientes. Tendo todo o cuidado na preservação da vida.

“Tivemos que lidar com as emoções, medos, angústias e preocupações de todos os funcionários, foi tudo muito difícil e diferente da realidade da qual os profissionais em saúde estavam acostumados a lidar e vivenciar”.

Houve mudanças nos protocolos de entrada de pacientes no início da pandemia e no momento atual. E foram mudanças significativas.

“Tivemos que, em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar –CCIH, constituída por profissionais do hospital, elaborar, em consonância com novas normas técnicas, novos protocolos internos para a estrutura e funcionamento do hospital. Foi mudada totalmente a rotina dos funcionários, realizadas diversas adequações que exigiram entre outras ações a disponibilização de uniformes e calçados padrão para todos os funcionários, equipamentos de proteção individual completos, incluindo máscaras, toucas, aventais, macacões, aventais descartáveis, aparelhos de pressão, oxímetro de pulso e dedo, condicionadores de ar específicos para uso em áreas confinadas. Houve, então, a necessidade de montar um posto de enfermagem especifico para área de isolamento do Covid-19”.

O diretor falou das novas normas implantadas e com elas foram elaborados os protocolos abaixo:

de entrada de pacientes: desde o início da pandemia, o hospital adotou a conduta de suspender todas as visitas aos pacientes internos do hospital, assim como acompanhantes, exceto para maiores de 60 anos;  

foram estabelecidas três áreas de entrada ao hospital: porta principal do hospital geral; pronto atendimento urgência e emergência (PA); salientando que o Setor Covid-19 possui uma entrada específica para os pacientes com síndromes gripais.

testagem dos pacientes para covid-19, seguindo os protocolos da Secretaria Estadual de Saúde;

testagem dos funcionários do hospital seguindo os protocolos da Secretaria Estadual de Saúde;

higienização das mãos - procedimento intensificado com a finalidade de qualificar ainda mais a importância dessa ação;

higienização geral do hospital foi intensificada.

As dificuldades encontradas

Conforme o diretor, enfrentam-se diariamente inúmeras dificuldades, desde o afastamento de funcionários do trabalho por apresentarem alguma comorbidade, conforme realidade demonstrada a seguir, os casos no próprio hospital que apontam:

*Casos suspeitos de Covid-19:   quatro funcionários

*Casos Positivos de Covid-19: 11 colaboradores (médico, enfermeiros e técnicos, todos já curados e com retorno as suas funções).

“Essas situações exigiram contratações imediatas e pontuais dos profissionais de cada área, aumentando as despesas do hospital. É importante salientar que todos os funcionários do Hospital já estão devidamente vacinados”.

Cavalheiro diz que as dificuldades foram inúmeras durante esse ano. Estruturais, funcionais e financeiras, mas principalmente as de origem psicológica, evidenciadas nas manifestações e comportamentos de todos os envolvidos. Somente quem trabalha na linha de frente dessa pandemia sabe a dificuldade que enfrenta, diariamente, ao lidar com todos os problemas que devem ser enfrentados, mas que nem sempre podem ser resolvidos.

A situação da Ala Covid

O diretor apontou que atualmente, se por um lado estamos esperançosos com o início da vacinação, por outro, o setor Covid está muito movimentado, com inúmeros atendimentos diários, o que levou a colocar mais um médico para atendimento 24 horas. Portanto, o município, como todos os demais, está enfrentando uma nova onda da pandemia com outras variantes, atingindo maior número de pessoas e de todas as faixas etárias, incluindo os mais jovens.

“A rede hospitalar encontra-se com sua capacidade de atendimento esgotada, agravando-se ainda mais pela falta de profissionais e de insumos. Infelizmente, a falta de leitos de UTI dificulta sobremaneira as transferências de pacientes, fato que já nos provocou óbitos em nosso hospital, a situação é gravíssima”.

Dados extraídos do Sistema Integrado Municipal de Saúde (SIMUS) apontam que desde o início da pandemia até o momento foram atendidas 2.540 pessoas, média de 53 atendimentos por dia.

“Nesse período, constatou-se que tivemos alguns picos pontuais da pandemia nos festejos de Natal, Ano Novo, Carnaval e de pessoas que estiveram frequentando praias e outras aglomerações”.

Muito se comenta se os repasses de verbas para a Covid foram suficientes para esse combate.

“Tivemos um bom aporte de recursos que têm nos dado cobertura para o pagamento de despesas com os profissionais, oriundos do município, recursos de governos, recursos da Justiça (para compra de equipamentos médicos) e da ACI/CDL (na compra e doação de cilindros de oxigênio), citando também muitos e importantes doadores anônimos que seguidamente se dirigem ao hospital com sua preciosa contribuição”.

E para finalizar, perguntamos a visão do diretor como pessoa diante desse tempo todo de pandemia.

“Todos nós estamos vivenciando esta terrível pandemia da Covid-19, tivemos que aprender a viver em isolamento, sem podermos nos relacionar com outras pessoas, enfim, tivemos que adquirir novos e importantíssimos hábitos de higiene e cuidados especiais. Temos que ter em mente que nós, seres humanos, fomos presenteados com a vida, é nosso dom maior, é nosso dever cuidá-la e protegê-la, pois, ela é curta e é única."

Ele faz um reconhecimento aos os profissionais da saúde.

“Fica nosso reconhecimento à dedicação de todos os profissionais da saúde pelo envolvimento, doação de esforços e trabalho feito com muita empatia”.

E salienta a necessidade de que todas pessoas se conscientizem da gravidade desse momento, do sofrimento de todas as famílias que perderam seus entes queridos. Que as pessoas se cuidem, que usem máscara, que procurem circular o mínimo possível.

“É imprescindível que a vacina seja disponibilizada com a maior brevidade e que todos se vacinem”.

 

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