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Quem é a responsável pela ala Covid de Restinga Sêca

Ela é panamenha, dos seus 42 anos, 22 anos foram vividos no Brasil. Formada em medicina, em 2004, pela Universidade Federal de Santa Maria, clínica geral, com especialidade em Saúde Pública, Larissa Linnette Gonzalez Rodriguez é a responsável técnica da Ala Covid junto ao Hospital de Caridade São Francisco, em Restinga Sêca.

Moradora de Santa Maria, com o seu filho, Larissa está na linha de frente desde o começo da pandemia, há um ano

“Eu era responsável pelas internações na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) em Santa Maria quando estourou a pandemia. Eu entrei numa outra empresa e essa empresa queria que eu treinasse as equipes nas tendas de Covid em outras cidades”, conta.

No início, ela achou complicado, pois quando pensou que se estabeleceria em um lugar, era remanejada para outro, e desde agosto está à frente na luta contra o vírus.

“Quando eu tive que me mudar para várias cidades, eu tinha que levar o meu filho. Então, eu vim para Restinga Sêca até pela proximidade de Santa Maria. Comecei na Unidade Móvel e agora estou na Ala Covid”, explica.

Com o aumento de casos, foi necessário que se saísse do modelo adotado para a Ala Covid. Então, foi organizada a estrutura nova para poder ser feita a internação dos pacientes com a Covid-19.

Larissa está desde o início da pandemia em Restinga Sêca só viu a piora no número de casos positivos e as internações crescerem no município. Ela ressalta que a situação é crítica e teme por um agravamento ainda maior.

“É o pior momento. Está se esperando outro pico. Quando começou a pandemia, em 2020, ficou dito que o pico seria em maio. Aí, depois que passou, eu falei que viria um pico em dezembro, no período das festas, porque eu imaginei que as pessoas iam se reunir e, de fato, aconteceu. Falei que viria outro pico no carnaval e outro pico nas férias, dito e feito”, analisa.

A médica disse que com esse aumento de casos e internações, foi solicitado e atendido pela Prefeitura a contratação de um médico para o turno da noite.

“Era demais, atendemos 90 consultas em um dia, é muita coisa para uma cidade que estava atendendo uma demanda de 13 ao dia no passado. É muita coisa, por isso o médico para o turno da noite”, justifica.

Vendo o crescimento exagerado de casos, Larissa tem o pensamento que não houve conscientização da população.

“Nós estávamos com toda a Ala lotada. E tu fica pensando: poxa vida, a população não aprendeu nada. Falta muita conscientização das pessoas e de respeito com os colegas também”, desabafa.

A ala Covid mudou muito desde a primeira visita da reportagem do Tribuna de Restinga ao local. Anteriormente, havia somente os quartos para observação. Hoje, está reformulada e tendo sala de emergência e os quartos separados para os casos mais complicados. Larissa diz que se a pessoa que for até a Ala sem ter o vírus, o risco de pegar é muito maior pelo fato do local ser uma área contaminada.

“É uma área limpa, mas há o risco. Temos uma área limpa e a área contaminada nós tentamos separar o máximo possível. Deixamos os pacientes isolados para traz, em uma estrutura do hospital e outra aqui que é mais segura e temos todos os cuidados antes de entrar e sair daqui. Então, fazer todo esse procedimento para a população fazer ao contrário é desgastante”.

Ao falar do seu sentimento nesse momento que estamos passando, com a voz embargada e os olhos marejados, Larissa responde muito emocionada.

“Desculpe, mas eu chego a me emocionar. Eu não sou do Brasil, mas por algum motivo estou aqui, para ajudar vocês. Mas as mortes que eu já presenciei, que me tocaram muito, foi não pelo paciente morrer, todos nós morreremos, mas sim pela angústia do paciente estar morrendo por falta de ar e não poder estar com sua família. Eu que sei o que é não estar com minha família, ficar doente e pedir para minha mãe vir e ela não poder porque está em outro país. Agora, esses pacientes sentiram por quê? Porque eles têm que ficar em isolamento e é perigoso as famílias irem até o local”.

Ela ainda salientou que é um momento muito difícil estar com pacientes em estado mais grave.

“Não é conveniente que fiquem juntos, isso já foi falado em todo o país e em outros países o porquê disso. É diferente tu morrer com câncer, que tu vai morrer com uma pessoa te dando a mão, te dando conforto, quem tem que dar um conforto nesses caso da Covid somos nós, médicos, enfermeiras e isso mexeu muito comigo”.

Após um momento para se recuperar da emoção, Larissa deixa um recado:

“O que eu deixo de recado para as famílias é que tenham consciência, para os jovens que desencadearam toda essa situação agora, aqueles que se reúnem, que vão na casa dos outros, tu está levando uma coisa que pode ser letal para tua casa, pra tua família, teus avós, pros teus pais, e a dor de tu perder alguém sabendo que tu levou isso, eu não ia querer ter isso na minha consciência. O problema que estamos vivendo agora não é do Governo e não é dos órgãos públicos, o momento que estamos vivendo é pelo egoísmo das pessoas de não entender que estamos diante de um problema grave. Nós estamos esgotados.”

A EQUIPE

Anteriormente, a equipe estava formada por três enfermeiros plantonistas, quatro técnicos e dois auxiliares de limpeza.

Devido a alta demanda externa, a reorganização da Ala e pelo aumento dos leitos, agora a equipe conta com um enfermeiro, dois técnicos por turno para os pacientes internados e uma enfermeira e uma técnica para as coletas de PCR e triagem dos pacientes externos.

Agora também há um médico para as emergências à noite e com uma fisioterapeuta para complementar a equipe.

“Eu tenho muito orgulho da minha equipe”, resume.

Conheça a equipe:

Fisioterapeuta: Luana Bolzan Viero

Enfermeiros plantonistas: Marina Reys Possebon, Paulo Ben-Hur Lencina e Giana da Rosa Beltrame

Técnicos: Jordana Rosa Lopes, Carmen Elisa da Rosa Oliveira, Luiz Marin Filho e  Ana Paula da Silva Vanes

Auxiliares de limpeza: Ana Paula Gonçalves e Ledi Dias

Enfermeira responsável pelas coletas: Aline Coradini

Médico plantonista noturno: Marlon Benelli

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