Quem muda pais e professores para mudar a educação?

Já virou clichê (ideia batida demais!) a história que se precisa mudar o Brasil e que a alternativa salvadora é a educação.

Sempre me coloquei frontalmente contra a educação à distância, ela sonega a possibilidade de interação com colegas e professores em sala de aula, processa-se no espaço da solidão –em um país de analfabetos funcionais, em que as pessoas apresentam grande dificuldade para ler e uma gigantesca dificuldade para interpretar, desejar que elas constituam-se profissionalmente realizando estudos à distância, parece-me um sacrifício demasiado. Em decorrência disso, não é de hoje que me preocupa a qualidade de alguns profissionais egressos desses cursos – claro que há honrosas e salutares exceções. Por outro lado, nem sempre a graduação presencial conseguiu forjar bons profissionais quando a pessoa negou-se à qualificação e preferiu fazer um “curso nas coxas”! Resumo da ópera, no meu ponto de vista, carecemos de professores com um bom cabedal teórico em suas formações e, acima de tudo, com um lastro de experiência que lhes permita enfrentar uma sala de aula e saírem-se satisfatoriamente bem sucedidos, em particular, em favor do aluno. Transmitir conteúdo, qualquer um transmite; professar conhecimento...ah, o buraco é mais embaixo!

Foquemos, por sua vez, na família. Não podemos generalizar, evidentemente, afinal, toda generalização é burra, mas observemos a maioria das famílias: há uma procura desmedida pelo lucro fácil, a qualquer custo e isso é observado pelos pequenos. Alguns casais optam por “relações abertas” e têm o direito de fazê-lo, mas os seus filhos pequenos, diante dessas relações e das relações observadas na família dos seus amigos, tendem a sentirem-se confusos, instáveis, inseguros. Frutos de uma geração a qual tudo foi interdito, alguns pais querem compensar-se, não impõem limites aos filhos, temem magoá-los, melindrá-los, acabam dominados pelo egoísmo ferrenho desses filhos. Quem tem mandado em casa, mesmo?

Em breves considerações, o que eu tento problematizar é: se os nossos professores estão pecando em sua formação, se os nossos pais estão sendo liberais demais, não lhes estaria faltando a educação que se postula que eles concedam aos mais novos? Aprendi que se educa pelo exemplo: o pai que abandona o avô no asilo está dizendo para o seu filho, faça o mesmo comigo; o pai que se omite diante do pedido de socorro de alguém, está dizendo para o seu filho, quando eu lhe pedir ajudar, você pode ignorar; o pai que mente descaradamente, justifica o imponderável diante do filho e, em casa, ainda tentar explicar a mentira, está dizendo para o seu filho, minta, quando a mentira for justificável, quando os fins justificarem os meios, minta...Que adultos estão no mundo, que adultos estão em ação para implantar/implementar um novo modelo educacional capaz de transformar a nossa sociedade? Não seria o caso de se postular um novo modelo de sociedade que passe pela transformação de todos nós, hipócritas, mesquinhos, falsos, em nosso cotidiano para, depois, aludirmos a possibilidade de uma educação transformadora para os pequenos. Como Brás Cubas, o personagem de Machado de Assis, não tive filhos, mas sempre penso que os mais jovens cobrarão de seus pais e de seus avós porque lhes legaram uma porcaria de mundo, por que não lutaram por uma sociedade melhor e fico imaginando o rosto desenxabido daqueles que preferiram a omissão, o conchavo ou coisas piores. É, senhores, a posteridade costuma ser cruel...

Elaine dos Santos - Doutora em Letras