Deputados Federais participam do “Te mexe, arrozeiro” em Restinga Sêca

Um dos pavilhões do Centro de Eventos de Restinga Sêca ficou lotado mais uma vez para mais um encontro do movimento “Te mexe, arrozeiro”, no sábado, dia 19 de maio. Centenas de produtores de arroz de diversas cidades gaúchas e também de Santa Catarina vieram ao município para discutir soluções para amenizar a crise nas lavouras do cereal mais consumido no mundo. Também participaram os deputados federais Luiz Carlos Heinze e Jerônimo Gorgen, do PP, e Alceu Moreira, do MDB, que trabalham em medidas para o setor no Congresso Nacional.

A discussão é ampla, mas os assuntos mais atacados são os que causam mais impacto nas finanças do agricultor: o baixo preço pago pelo produto. As causas são as mais variadas, principalmente a concorrência do arroz vindo da Argentina, Uruguai e Paraguai, que é produzido com produtos químicos não aceitos no Brasil e com um custo muito mais baixo.

“As negociações com o governo federal estão andando. Estamos discutindo as questões do Mercosul. Os defensivos, as máquinas, as peças, o diesel, tudo é mais barato na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. Se vem arroz de lá, porque o nosso produtor não pode comprar os defensivos lá, por exemplo? Estamos trabalhando nisso para abrir as porteiras do Mercosul para fazer com que esses preços aqui baixem. É uma das saídas que temos nesse momento”, destaca o deputado federal Luiz Carlos Heinze.

Com a concorrência do arroz dos países vizinhos, o valor do produto cai na hora de comercializar para as beneficiadoras, embora nos mercados não. A situação faz com que o custo de produção da saca seja maior que o de venda.

“É só o governo que não enxerga. A nossa pauta continua a mesma há anos. Isso vem se arrastando há anos. O produtor vem se atolando ano após ano. O nosso custo de produção é R$ 47, e temos que vender a R$ 33. O Rio Grande do Sul deve uma safra inteira hoje. Não conseguimos entender um tratado como esse Mercosul. É muito difícil de trabalhar assim”, reclama o secretário de Agricultura de Restinga Sêca, Cláudio Possebon, um dos organizadores do movimento.

Devido a esse déficit de comercialização, os financiamentos das lavouras precisam ser renegociados nos bancos. Por isso o secretário diz que os produtores gaúchos devem uma safra inteira. Uma nova saída com as instituições financeiras também está sendo negociada na Câmara dos Deputados.

“Vamos ter a definição sobre o futuro do Funrural até o final deste mês. Estamos tentar fechar uma negociação de uma linha de crédito para tentar dar uma resolvida nessa dívida dos agricultores. Temos uma dívida hoje que não é só com bancos, ela está também fora do sistema financeiro e isso nos preocupa muito. Estamos tentando criar uma linha que alongue e traga de volta essa dívida para o sistema financeiro, até para não deixar o produto preso na mão da indústria, que é exatamente o motivo que o preço não melhora. Esse encontro aqui é um encontro que ajuda muito, é uma mobilização que faz pressão, faz força, para que possamos avançar. O problema é que para poder vender geladeira, veículo, lá para Argentina, Paraguai e Uruguai, o governo brasileiro deixa entrar vinho, arroz, tudo que é coisa de tudo que é jeito”, explica o deputado federal Jerônimo Goergen. 

Um outro problema, na visão do deputado Heinze, é a enorme área da lavoura de arroz no Estado, que ultrapassa 1 milhão de hectares, o que acaba gerando um excesso de oferta do produto no mercado interno.

“Estamos vendo que tem ume excesso de produção. Plantávamos em torno de 500 mil hectares nos anos 80, colhendo 4 mil quilos por hectare. Hoje estamos colhendo 10 mil quilos por hectare e plantando mais de 1 milhão de hectares. O Rio Grande do Sul dominou a produção no Brasil. Sei que essa região tem dificuldade de reduzir as áreas. Vejo que essas regiões da fronteira, litoral e zona sul, tem que reduzir”, contextualiza Heinze.

IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO

As autoridades restinguenses destacaram a importância do movimento, capitaneado por produtores do município, já que a agricultura e a lavoura de arroz, especificamente, são as maiores geradoras de renda da economia local.

“Estamos recebendo esse movimento importante da lavoura arrozeira. No nosso município a lavoura representa 40% da nossa economia em geração de emprego e renda e retorno de ICMS. Estamos participando de todas essas discussões. Precisamos estar unidos, trabalhando e reivindicando para essa mudança”, reforça o prefeito de Restinga Sêca, Paulinho Salerno (MDB).

“Não é de hoje que Restinga vem a frente do movimento e lutando pela classe. É uma luta em benefício de toda a sociedade. O nosso município é dependente dos agricultores, e essa crise é preocupante. A nossa luta é para reverter não só as dificuldades do agricultor, mas melhorando isso, melhora para todo o resto do comércio. Com esse preço não cobrimos o custo da lavoura, e isso acontece há anos, o que acabou gerando um passivo, ano após ano, e essa dívida vira uma bola de neve com os bancos”, complementa o presidente da Associação dos Arrozeiros de Restinga Sêca e também vereador do município, André Tonetto (MDB).