Que a gente nunca perca a esperança...
Confesso que o casamento do príncipe Henry Charles Albert David, o filho caçula de Diana Spencer, não foi exatamente uma atração para mim. Não acompanhei os preparativos, nem a cerimônia. Mas andei “flertando” com as repercussões do evento.
Creio que o primeiro príncipe encantado que ocupou o imaginário da adolescente, que eu era em 1976, foi Carlos Gustavo da Suécia, que havia sido entronizado rei em 1973. A história era totalmente sedutora, afinal Carlos Gustavo, o rei da Suécia desde então se casaria, em 19 de junho de 1976, com Silvia Renata Sommerlath, que ele conhecera nas Olimpíadas de Munique/Alemanha. Sílvia era filha do empresário alemão Walther Sommerlath...e...da brasileira Alice Soares de Toledo. Isso mesmo, a rainha da Suécia tem sangue brasileiro!
É impossível negar que sempre acompanhei com olhos contemplativos a história da família Pahlev do Irã, deposta em 1979, também com fortes vínculos com o Brasil; a história de contos de fadas da família Grimaldi (depois, tão dramática) de Mônaco; seduziram-me sempre as trajetórias conturbadas de Cristina Onassis, John-John Kennedy, ambos sem sangue real, cujas vidas foram vividas ao melhor estilo das clássicas tragédias gregas (até porque Cristina era grega, filha do mega empresário Aristóteles Onassis, que se casou com Jaqueline, ex-Kennedy, mãe de John-John e Caroline, e que fora casada com o ex-presidente estadounidense John Kennedy).
É claro que, naquele longínquo julho de 1981, eu acompanhei, fascinada, o casamento de Lady Diana Spencer com o sapo príncipe Charles – era um conto de fadas moderno, transmitido pela televisão e o mundo inteiro parou para assisti-lo, assim como todos nós, encantados, diante da televisão, conhecemos Wiliam Arthur Philip Louis e o caçula, que se casou no sábado, o “endiabrado” dos cabelos ruivos, cujo apelido é Harry. Por outro lado, vimos, cabisbaixos, o casamento ruir, a princesa entristecer e, apalermados, assombrados, assustados, órfãos, acordamos naquele verão europeu de 1997 com a notícia do acidente, num túnel parisiense, que lhe tirara a vida. A monarquia britânica fora obrigada a reinventar-se.
Vieram Kate, os pequenos e encantadores George, Charlotte e, mais recentemente, Louis Arthur Charles. Agora, soma-se à família real a jovem Meghan. Com ela, quebram-se mais tabus, regras e preconceitos. Sarah Ferguson, cunhada de Diana, mulher do príncipe Andrew, já representara uma grande mudança; o tipo de convívio entre Kate e William antes do casamento também foi “sui generis”, mas Meghan rompe com muitas tradições e aponta para novas singularidades. Ela tem sangue negro, provavelmente oriundo de alguma ex-colônia britânica; os pais são separados e o seu pai sequer foi ao casamento; na cerimônia, houve referências a Martin Luther King, um dos grandes ícones mundiais em defesa da causa negra, demonstrando o engajamento da jovem princesa, e a presença de um coro, em sua quase totalidade, formado por homens e mulheres de pele cor de ébano, entoando “Stand by me”, foi sublime, mas representativo e, arriscando-me a parodiar Neil Armstrong, houve, nesses gestos, um grande salto daquilo que costumamos chamar humanidade. Se assim o for e se Meghan, a exemplo de Diana Spencer, não for brutalmente silenciada, eu acho que gostei dessa união matrimonial que não guarda mais nada de casamento de conto de fadas, até porque, hoje, eu sei que fadas nunca existiram e os tais contos da carochinha, na verdade, eram histórias bem picantes, recolhidas pelos irmãos Grimm, na Alemanha, e por Perrault, na França, que lhes retiraram o erotismo, a sensualidade, transformando-os em histórias para crianças.
Professora Elaine dos Santos
Doutora em Letras.
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