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Mãe, Terra: permanência e solidez

Segundo os gregos, que servem como base para o pensamento ocidental, cuja cultura foi-nos legada pelos poderosos romanos que a copiaram, adaptaram e disseminaram entre os povos que dominaram, incluindo portugueses e espanhóis, no princípio era o Caos, o abismo escuro e ilimitado e, do seio do Caos, nasceu Gaia, a Terra. Gaia é o contrário do Caos, portanto, é presença, é firme e estabilizadora. Conforme Pierre Vernant, em “O universo: os deuses, os homens” (2000, p. 18), Gaia ou Terra constitui o “lugar onde os deuses, os homens e os bichos podem andar com segurança. Ela é o chão do mundo”.

Gaia, sozinha, gerou o Céu (Ouranós/Urano) e Pontos (as águas), que, em oposição à Gaia, são líquidos e fluídos, enquanto a mãe, Terra, é solidez. Urano cobria totalmente a Terra, não lhe concedendo espaços, num casamento cósmico, em que o macho sobrepunha-se à fêmea. Dessa cruel união, nasceram os titãs, as titânidas, os ciclopes e os hecatônquiros. Ocorre que os filhos ficavam retidos no ventre de Gaia e ela, em sua doçura, não reagia à violência de Urano. Mas os titãs ganharam força, especialmente, Khrónos ou Cronos [o tempo] que, armado de uma foice, produzida pela própria mãe, castrou Urano, que movido pela dor, fugiu para o alto do mundo.

Assim, Cronos ascendeu ao reino supremo, mas – despótico – começou a devorar os filhos que tinha com a titânida Reia. Gaia tramou uma artimanha com Reia e ambas deram uma pedra para Cronos alimentar-se como se fosse o filho recém-nascido, Zeus. Durante cem anos, nenhum lado triunfou, titãs e titânidas empreenderam uma luta insana pelo poder, até que Gaia orientou Zeus a descer ao Tártaro, às trevas, ao inferno (dê o nome que lhe parecer melhor), libertar os ciclopes e os hecatônquiros, fazer uma aliança com eles e prender os demais titãs/titânidas no fundo do Tártaro, submetendo-lhes à vigilância dos ciclopes e hecatônquiros [não vou entrar em detalhes sobre os incontáveis seres andróginos que Gaia pariu até a consolidação do reinado de Zeus, porque poderia melindrar os conservadores de plantão!]. E Zeus reinou sobre o Olimpo por todos os séculos.

Se você leu até aqui e se já leu “O tempo e o vento” reconheceu – de longe! – a história de Ana Terra e Bibiana Cambará! Se não conhece a história da família Terra-Cambará, você conhece a história da sua família. Quantas vezes, a sua mãe silenciou diante de acontecimentos que ela, contrariada, pediu paciência; quantas vezes, ela disse-lhe tente mais uma vez; quantas vezes, ela disse é preciso persistência; quantas vezes, ela apontou o caminho e você talvez não tenha querido seguir; quantas vezes, ela foi complacência, paciência, mansidão, mesmo que você gritasse, berrasse para ela reagir, enfurecer, “chutar o pau da barraca”... ela é Gaia, ela é Terra, é continuidade, é solidez, ela não é empregada doméstica, ela não é despertador, ela não é faxineira, ela não é lavadora de roupas, ela não é sua cozinheira, ela é a mulher que lhe deu a vida – cheia de defeitos, porque ela é um ser humano, mas 90% delas, as mães, esforçam-se para serem as melhores mães para os seus filhos, algumas não conseguem, não sabem fazê-lo, mas e daí?! Nem todos os filhos podem atirar pedras, nem todos os filhos conseguem ser filhos na verdadeira acepção da palavra.

No domingo, abrace! No domingo, beije! No domingo, acaricie e aconchegue! Se ela não merece, sob o seu ponto de vista, pode ser que só ela saiba as dores que carregou durante nove meses, pode ser que só ela saiba as noites que passou em claro velando o seu sono. Se ela não tiver feito isso... Paciência! Você agradeceu.

Prof. Dra. Elaine dos Santos

Revisora de textos/Palestrante

Tese de doutorado disponível em http://repositorio.ufsm.br/handle/1/3984

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