Memória restinguense: Miguel de Patta
Michele De Patta nasceu na Itália, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Camerino em 1910 e, em 08 de outubro de 1911, casou-se com a sua prima Ersilia Oliva D’Acunti, em uma cerimônia íntima, simples, sem pompas. A noiva permaneceu morando com os tios até que Michele concluísse a faculdade. Em 24 de setembro de 1912, nasceu-lhes o primeiro filho, Giuseppe Marcelo De Patta. Os anos passaram e Michele já frequentava a Faculdade de Medicina em Bolonha, quando, no quinto ano, transferiu-se para Nápoles, a fim de ficar mais perto da esposa e do filho. Em 01 de abril de 1916, “recebeu o seu Diploma com título de Doutor em Medicina e Cirurgia, podendo exercer também Farmácia, Odontologia e Radiologia” (PILLAR, 2004, p. 44).
Como a Itália encontrava-se em guerra – Primeira Guerra Mundial -, Michele De Patta foi chamado a prestar serviço militar. Inicialmente, permaneceu em Bari; depois, foi mandado para a zona de guerra, atuando como oficial-médico na Albânia e na Grécia. De Patta chegou a ser gravemente ferido, teve febre, convulsões, mas se recuperou.
Depois da guerra, a família residiu em Bari e, mais tarde, em Nápoles. Após um assalto à residência, o médico decidiu pôr em prática um sonho acalentado já fazia tempo: transferir-se para a América.
Depois de algumas peripécias por Rio de Janeiro, Santos, chegaram a Porto Alegre, onde foram recebidos por alguns calabreses. No Rio Grande do Sul, o primeiro destino foi Garibaldi, os pacientes vinham de longe e o médico viajava para atendê-los: Lagoa Vermelha, Nova Bassano, entre outras localidades.
Em 1921, transferiu-se para Anta Gorda, distrito do município de Encantado. Ali, logo tratou de construir um hospital tendo como patrono São Carlos. “A casa onde funcionava o hospital era um sobrado de madeira (...). A família residia no andar superior, e no andar térreo ficavam as dependências hospitalares, como consultório, sala de operações, enfermaria e alguns quartos” (PILLAR, 2004, p. 73). Graves desentendimentos determinaram a saída do médico de Anta Gorda, transferindo-se para a capital, onde permaneceu entre amigos. Seguindo, na sequência, para Rio Pardo, onde atendeu no hospital, na comunidade e nas redondezas.
Em continuidade, a família rumou para Restinga Seca: “Gostou do lugar: limpo, saudável, com pessoas generosas e interessadas que pediram que ficasse. Não havia hospital no lugar, nem médico” (PILLAR, 2004, p. 99). O médico De Patta montou uma pequena clínica e, entendendo que Restinga Seca era o lugar ideal para construir um hospital, comprou um terreno, vizinho à residência dos compadres Paulo e Dina Magoga, para o seu sonhado hospital.
“A construção da casa iniciou-se nos moldes das casas da Itália, que eram feitas de pedra, com grossas paredes (...). Era uma enorme casa, um sobrado, para que na parte superior ficasse a residência da família e no andar térreo funcionasse o hospital” (PILLAR, 2004, p. 101). Na festa de inauguração, houve churrasco para toda a população, além de vinho, refrescos e gasosa. Mas, com o tempo, o serviço começou a rarear, a localidade não se desenvolvia e os atendimentos precisavam ser feitos cada vez mais longe de casa. A família transferiu-se para Santa Maria.
Os De Patta ainda seguiriam para Santa Catarina e o médico atuaria em várias clínicas, hospitais, vindo a falecer, vítima de uma parada cardíaca em 13 de julho de 1946, aos 58 anos de idade.
Fonte: PILLAR, Igea Lúcia De Patta. “Da Calábria ao Brasil. A história de um médico italiano”. Porto Alegre: Sem editora, 2004.
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