Bravíssimo! Recanto Maestro, 30 anos
Nos anos 80, o meu pai era motorista da linha dos estudantes que frequentavam a Escola Municipal Ana Grigoletto, em Santuário. Ao meio-dia, passava pelas localidades próximas e recolhia os pequenos; no final do turno, levava-os de volta ao lar: São José, Santa Lúcia eram as comunidades limítrofes com Faxinal do Soturno (depois, São João do Polêsine). De São José, local em que ele manobrava o ônibus para voltar, a lembrança será sempre a capela; havia, então, um acesso dificílimo em dias de chuva que levava a uma estradinha e, na sequência, a Santa Lúcia – dali, a imagem será sempre uma pontezinha frágil (não deve existir mais, decerto, foi substituída). Entre São José e Santa Lúcia, a memória guardou apenas campo, árvores e, um pouco mais longe, os cerros. Era um lugar abandonado, era um não-lugar, em que algumas pessoas seguiam uma vida pacata, sem efetivo retorno financeiro para qualquer um dos municípios que ali faziam limites. Era uma gente que não recebia atenção nem de A, nem de B... o tempo passava mansamente, como mansamente passavam as nuvens por entre os cerros.
Hoje, ao chegar ao Recanto Maestro (repito sempre que possível), não é mais necessário chamar um trator para “puxar” os ônibus em dias de chuva, há asfalto. Há do verbo haver, no sentido de existir: casas – você lembra as primeiras casas “suspensas” lá longe no cerro? Mas o que essa gente veio fazer aí? Mas quem vai morar nesse fim de mundo? Há do verbo haver, no sentido de existir: empresas - eu listarei apenas algumas empresas “do lado oficialmente restinguense” – Antonio Meneghetti Faculdade, Editrice Ontopsicológica, Iara Café, AM Stile, Originale Maison, Acquachiara Lavanderia, Cantina Di Paolo, Hotel Business Center Beira Rio (que recebe convenções estaduais e nacionais, praticamente, todas as semanas, para isso são-lhe insuficientes “apenas” nove andares e a duplicação vem aí!!), Casa do Recanto – olvido algumas propositalmente para mencionar o empreendimento na área de produção de azeite de oliva e o complexo de águas termais. Quer mais? Não se preocupe, eles providenciarão isso.
Você pode ainda ter todas as restrições à figura humana de Antonio Meneghetti – e eu continuarei insistindo que as nossas dúvidas sobre alguém nascem do nosso desconhecimento sobre esse alguém. Você pode ainda ter todas as reticências possíveis com relação à Ontopsicologia – continuo considerando que o seu preconceito ainda nasce do seu desconhecimento. Leio conceitos de Ontopsicologia desde 2010, não sei a enésima parte, mas sei o suficiente para dizer que “não é uma seita do demônio” e se for, até agora, ninguém pediu a minha alma ou algum sacrifício envolvendo qualquer pessoa que eu ame (acho graça dessas teorias conspiratórias!!). Por outro lado, sei que você, como a maioria dos nossos cidadãos, temia que se fizesse uma “lavagem cerebral” nos alunos formados pela faculdade. Você reparou quantos jovens restinguenses formados pela Antonio Meneghetti já estão atuando no mercado de trabalho e continuam com o cérebro “sem lavagem”, agindo sem serem pessoas “teleguiadas”, manipuladas pelas ideias da ciência Ontopsicologia? Que tal dar um tempo para esse seu preconceito, para esse seu ranço antiquado? Não dá para remar sempre contra a maré! É impossível negar que temos advogados, administradores, profissionais da área de informática atuando nas suas respectivas áreas sem fazer feio diante dos profissionais formados nas melhores universidades da região e do estado. Por que menosprezar os acadêmicos formados em solo restinguense? Por que desconhecer que os cursos da AMF são autorizados e reconhecidos pelo MEC (está lá na plataforma e-mec, basta consultar!)? Por que não festejar que há um curso de Ontopsicologia e outro de Pedagogia em andamento e por que não festejar que, em breve, haverá Arquitetura, Gastronomia, Filosofia? É preciso pensar grande e os ideais ontopsicológicos, os ideais trazidos por Antonio Meneghetti para o Recanto Maestro, 30 anos atrás, estão nos ensinando a pensar assim. Não vamos mudar o mundo, mas podemos ser mais, estudar mais, aprender mais, fazer mais, para sermos mais felizes e mais funcionais para o mundo. Não precisamos ficar de mãos postas a olhar para o céu e rogar a Deus que nos conceda todas as bênçãos, podemos ajudá-lo, fazermos a nossa parte, ajudarmo-nos e ajudarmos quem precisa, quem tem vontade de se ajudar.
Por último, o vocábulo “Bravíssimo” que abre o título deste texto pertence à Professora Doutora Elaine dos Santos, mestre e doutora em Literatura, com dois vieses muito fortes, História e Teatro, que aplaude em pé a ideia Recanto Maestro. Ali, no auditório da AMF, eu pude “conversar”, com a intermediação de uma tradutora, com dois professores russos da minha área, saber como é fazer literatura e estudar linguística quase do outro lado do mundo, saber como são expressas, em linguagem literária, as inquietações humanas que são universais, mas que têm conotações regionais, locais. Ali, no auditório da AMF, eu pude ouvir um professor japonês falar sobre educação no seu país - sabe que, diferente do que a mídia prega, o mundo fora do Brasil não é perfeito? Ali, no auditório do Hotel Capo Zorial, eu pude trocar ideias com o professor doutor Eduardo Afonso, da UNESP, sobre arte ocidental de um modo geral e sobre golpe militar no Brasil em particular, uma vez que a sua tese de doutorado levou-lhe a Washington e ao manuseio de documentos do FBI e da CIA; ali, no auditório do Hotel Capo Zorial, sentei-me ao lado de José Clemente Pozenato, autor de “O quatrilho”, trocamos ideias sobre ironia no texto literário, sobre romance, filme e ópera – a Bell’Anima Produções Artísticas, do Recanto Maestro, prepara a ópera “O quatrilho” para breve. Ali, na Fundação Antonio Meneghetti, eu sou recebida com um sorriso e um abraço carinhoso pela dona Any e, ali, na Antonio Meneghetti Faculdade, eu sou recebida com um sorriso e um abraço por todos, eu sou reconhecida como uma professora universitária!
Por fim, mas sem ser o fim, no dia 03 de março de 2018, em comemoração aos 30 anos de existência do Recanto Maestro, fomos brindados com um espetáculo magnífico. Em geral, sou agraciada com uma cadeira previamente reservada que me permite um olhar privilegiado sobre o palco e assim aconteceu. Pude observar as expressões faciais do grande e reconhecido maestro Antonio Cunha, a sua sensibilidade ao reger a Orquestra Recanto Maestro, a sua generosidade ao final de cada número, chamando cada naipe de instrumentos para os aplausos. Esqueci-me de fotografar, mas, do “meu” lugar, era possível ver os gestos, as expressões faciais da Ariana, do Josias, do Micael, a emoção de cada um, a entrega de cada um...Quando abracei o Josias, ao final, ele apenas disse: “emocionado e suado”. Ouvia, mas não via, o oboé e sabia que lá, entre os demais, estava humildemente Julian Ramos. A apoteose veio com a entrada do Vagner (Cunha), o maestro e compositor, da soprano com carreira internacional, Carla Maffioletti, e do Flavio (Leite), o tenor, que já tive o prazer de ver e ouvir em outras oportunidades. Quem não sucumbe a uma cantata...Poemas escritos em italiano que você compreende com nitidez, soltos ao ar em vozes que atingem graves e agudos impensados pelo seu ouvido.
Bravo, bravíssimo à ideia Recanto Maestro! Bravo, bravíssimo aos homens e às mulheres que fizeram, fazem e farão o Recanto Maestro! Bravo, bravíssimo a nós que não temos vergonha, nem pudor de sermos humildes e aprendermos sempre com eles, porque eles têm o que nos ensinar.
Parabéns, Recanto Maestro!
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