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Como o mundo  comemora o Natal  - Japão

Como o mundo comemora o Natal 

Quando a equipe do jornal discutiu a pauta para o especial de Natal, dei-me conta que as pessoas, de um modo geral, imaginam o Natal como algo uniforme em todos os lugares do mundo e isso é uma premissa falsa. Pensei que há muitos restinguenses que vivem ao redor do mundo e que muitos deles poderiam dar um testemunho sobre as suas experiências, por outro lado, um dos grandes ganhos de uma pós-gradução em nível de doutorado é a sua interlocução com pesquisadores que, ao longo do tempo, transferem-se para outros países, fazem as suas carreiras fora do Brasil e eu também pedi para essas pessoas que contassem um pouco das suas histórias natalinas. Vieram pérolas, coisas que até mesmo eu desconhecia. Acompanhem nas próximas páginas. Espero que os senhores gostem!
Professora Elaine dos Santos, organizadora.

JAPÃO - Suely Hiromi Furukawa, descendente de japoneses (nissei), reside em São Paulo, jornalista, trabalha com editoria de textos. É casada com o cartunista Paulo Paiva que, durante muitos anos, fez parte da equipe de Mauricio de Souza.
Descendentes de japoneses são comuns em São Paulo, além de chineses e coreanos. Eu sou da primeira geração de japoneses nascida no Brasil, ou seja, sou nissei. Meus pais vieram ainda adolescentes, mas, na época, considerados adultos, capacitados para o trabalho no campo. Aqui se casaram, no interior paulista, onde nasceram os meus irmãos e eu.
No Japão e na China, o Natal é apenas uma data comercial, introduzida depois da Segunda Guerra Mundial. Todos trocam presentes, as lojas têm enfeites de Papai Noel. Mas o dia 25 de dezembro nem feriado é. Jesus Cristo é conhecido mais ou menos como Buda por aqui. Não é uma figura mística ou religiosa. Poucos conhecem a sua história. Na Coreia, é um pouco diferente, a presença católica é mais marcante. Muitos dos imigrantes coreanos no Brasil são católicos.
Todos os países do extremo oriente, até o começo do século passado, seguiam calendário baseado no ano lunar chinês, agora, adotaram o calendário cristão e fazem a virada do ano seguindo o padrão internacional, de 1º de janeiro. O ano novo é comemorado em grande estilo, com comidas típicas e rituais de boa sorte. As fábricas entram em férias coletivas e o trabalho no campo costuma ser interrompido, já que é época de muita neve. Há visitas a templos xintoístas e budistas e quem mora longe de casa retorna ao lar. Os netos matam saudades dos avós e ganham presentes em dinheiro, o “otoshidama”, equivalente ao “bom-ano” brasileiro. Durante todo o mês de janeiro, quando se encontra um conhecido pela primeira vez, as pessoas se saúdam dizendo “akemashite omedetô!” (parabéns pelo novo ano que iniciamos) e quem recebeu o cumprimento deve responder com “kotoshimo yoroshiku onegaishimassu” (desejo que tudo corra da melhor forma também neste ano).
Quando eu era criança, morava na área rural do interior de São Paulo. Os natais eram um pouco diferentes em todas as casas. Poucas famílias tinham televisão e o apelo comercial por presentes do Papai Noel era bem menor. O evento mais tradicional era a Missa do Galo, à meia-noite do dia 24 de dezembro. Por isso, todos jantavam cedo e seguiam para a missa. Mesmo não sendo católicos, meus irmãos mais velhos costumavam ir à missa, um evento social a que compareciam pessoas de todas as idades. Apenas no dia 25, tínhamos um almoço especial, com um cardápio mais caprichado. Geralmente, havia uma carne preparada à moda brasileira, em mistura a pratos japoneses. Não havia troca de presentes.
Na década de 70, depois da Copa do Mundo, com transmissões via satélite, o Brasil ficou mais globalizado. Cresceu o número de crianças da nova geração, os sobrinhos sanseis, frutos de casamentos com não orientais. Os contatos com famílias de costumes diferentes alteraram os hábitos das famílias de imigrantes japoneses. Surgiu a árvore de Natal e até o Papai Noel para entregar os presentes. A mesa do jantar do dia 24 de dezembro passou a reunir toda a família. A Missa do Galo desapareceu dos rituais e apareceu o panetone, o peru e o cabrito. Com a Internet, o nascimento de Jesus ganhou destaque, apareceu nas mensagens de celular, atingiu pessoas de todas as religiões agregadas à nova família: católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas e judeus.
Muitas mudanças de hábitos, desde a vida dura no campo, agruras da perseguição durante a guerra, o milagre econômico, a incorporação dos costumes de outros povos. Crise econômica, caminho inverso para muitos descendentes de japoneses que foram trabalhar na terra de seus antepassados. A distância e a saudade trouxeram outras rotinas para muitas famílias. Com ou sem fundo religioso, o Natal e o Ano Novo são momentos para reuniões familiares, em volta de uma boa mesa. Quando não dá, valem encontros virtuais.


 

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