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Como o mundo  comemora o Natal  - França

Como o mundo comemora o Natal 

Quando a equipe do jornal discutiu a pauta para o especial de Natal, dei-me conta que as pessoas, de um modo geral, imaginam o Natal como algo uniforme em todos os lugares do mundo e isso é uma premissa falsa. Pensei que há muitos restinguenses que vivem ao redor do mundo e que muitos deles poderiam dar um testemunho sobre as suas experiências, por outro lado, um dos grandes ganhos de uma pós-gradução em nível de doutorado é a sua interlocução com pesquisadores que, ao longo do tempo, transferem-se para outros países, fazem as suas carreiras fora do Brasil e eu também pedi para essas pessoas que contassem um pouco das suas histórias natalinas. Vieram pérolas, coisas que até mesmo eu desconhecia. Acompanhem nas próximas páginas. Espero que os senhores gostem!
Professora Elaine dos Santos, organizadora.

FRANÇA – Rejane Arce, professora, formada em Letras, mestre e doutora em Linguística pela UFSM, tendo realizado estágio pós-doutoral na Universidade de Paris 3 (2012/2013). Qualificada às funções de Maître de Conférences pelo Conseil national des universités (C.N.U.), em Ciências da Linguagem e em Línguas e Literaturas Românicas, França, campanha 2013. 
O Natal no leste da França, em Besaçon. 
É meu sétimo Natal aqui. Aqui, onde não há fogos de artifício à meia-noite e a decoração é quase que restrita às grandes lojas. A decoração é quase imperceptível nos bairros e mesmo na capital. De Paris a Besançon, a gente só se dá conta do Natal no centro da cidade e nas lojas. A festa guarda o seu “espírito” comercial. No interior, ou na “província”, como se diz por aqui, é difícil encontrar um restaurante ou outro lugar para festejar o Natal. Ele guarda um espírito familiar, da ceia familiar (aqui, antes da meia-noite, sem peru, farofa, lentilha ou uvas e frutas secas, mas com salmão, fuagrá, ostras, champignons, galo assado, peito de pato, rocamboles de natal, pão de especiarias, eventualmente, um panetone ou um cake de frutas secas e outros pratos que vêm de outras culturas próximas), da troca de presentes e da árvore de Natal. As feiras de Natal acontecem durante todo o mês de dezembro, as pessoas saem para tomar quentão, comer crepe, churros, castanhas grelhadas, fondue etc., prestigiar as animações e os produtos do artesanato local, nas praças, nas ruas, em um espaço comum e acolhedor, no frio, que pode descer até mais ou menos -10 graus, nessa época por aqui. Essa prática estende-se por toda França. Particularmente, eu guardo minha herança cultural de preparar uma “ceia” de Natal em família. Minha família, aqui, é bem pequena, restrita ao meu marido e meu enteado e a mistura é bem heteróclita, meu marido de origem árabe, meu enteado francês e eu, gaúcha e brasileira. E essa é a nossa riqueza, aprender a ver na diferença uma razão de valorizar nossas raízes e aprendermos com os outros. A árvore de Natal, eu monto no meu trabalho, com minhas colegas porque somos 12 mulheres em um departamento. Nenhuma conotação religiosa interpõe-se e a noção de família aqui evocada é também uma noção de afeto, da família que se estabelece pelos laços de afeto. Pessoalmente, eu acho que o Natal no Brasil é mais “alegre” e mais festivo, por outro lado, aqui a família e as raízes locais afloram nessa época. Esse clima gera nostalgia, saudade da família de “sangue”, mas também aquece o coração nesse clima frio e nos faz mais fortes e sensíveis com os outros e nossa própria história de via. 
Feliz Natal a todas e a todos queridos compatriotas. 
Rejane Arce, gaúcha, PhD da UFSM, engenheira de estudos na Universidade de Franche-Comté, França.
 

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