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Como o mundo  comemora o Natal  - Croácia

Como o mundo comemora o Natal 

Quando a equipe do jornal discutiu a pauta para o especial de Natal, dei-me conta que as pessoas, de um modo geral, imaginam o Natal como algo uniforme em todos os lugares do mundo e isso é uma premissa falsa. Pensei que há muitos restinguenses que vivem ao redor do mundo e que muitos deles poderiam dar um testemunho sobre as suas experiências, por outro lado, um dos grandes ganhos de uma pós-gradução em nível de doutorado é a sua interlocução com pesquisadores que, ao longo do tempo, transferem-se para outros países, fazem as suas carreiras fora do Brasil e eu também pedi para essas pessoas que contassem um pouco das suas histórias natalinas. Vieram pérolas, coisas que até mesmo eu desconhecia. Acompanhem nas próximas páginas. Espero que os senhores gostem!
Professora Elaine dos Santos, organizadora.
 

CROÁCIA – José Luiz Foureaux de Souza Júnior é professor titular da cátedra de Literatura na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizou estágios pós-doutorais na Universidade Federal Fluminense (UFF) e na Universidade de Coimbra, Portugal. Atuou como professor leitor na Embaixada do Brasil em Zagreb, capital da Croácia.
Corações vermelhos e brilhantes pendurados em guirlandas iluminadas por miríades de lâmpadas brancas. Um cheiro de castanhas assadas (como em Portugal) pelo ar. O burburinho das pessoas andando de lá para cá, curiosas, completamente agasalhadas pelo frio cortante, com direito a vento e pancadas de neve, com temperatura abaixo de zero. O gosto doce e delicado dos biscoitos em forma de coração vermelho, símbolo natalino nacional na Croácia! Uma festa interessante de se ver. Uma experiência que se equilibra entre o inolvidável e o banal. É Natal em Zagreb, capital da Croácia. A cidade mais se parece, nesta época do ano, com um tabuleiro de suspiro. O branco da neve, intermitente, não faz com que as pessoas desistam de caminhar, apesar dos riscos. Quem viveu isso, sabe! O Natal, allaroundthe world é mais ou menos igual. As galerias se enfeitam, as ruas se enfeitam. Há apresentações musicais e o burburinho de gente é constante. Nada de original. O que mais me chamou a atenção foi a missa do galo, pela solenidade, pelo esplendor: do templo e do rito. Fato é que não entendi sequer uma palavra do que estava dito, para além do simbolismo dos gestos e do encaminhamento da cerimônia, mas a solenidade com que o cardeal croata presidiu o rito… não há palavras para expressar. A nave completamente tomada pelos fieis e eu pensando na distância que me separava da família e dos amigos naquele momento. A Croácia é um país católico que experimenta uma certa tensão entre dois ritos: o romano e o ortodoxo. Assisti às duas cerimônias. Ambas solenes e esplendorosas e ficou, na memória afetiva do estrangeiro que aqui escreve, a marca de uma experiência ao mesmo tempo única e universal. Mas não é assim mesmo o Natal: uma festa que caminha entre as veredas do paganismo e da religiosidade, como uma dama tranquila e solene, circunspecta e dinâmica, fazendo com que os habitantes do planeta repitam, a cada ano, as mesmas perguntas, renovando uma experiência que ainda não encontrou a sua definição: a fé! Pois, assim, é o Natal em Zagreb. Apesar do som estranho do nome da cidade – criado e escrito numa língua difícil e, particularmente, desagradável de ouvir (e eu penso que a recíproca é verdadeira para os croatas!), o Natal croata não se diferencia de nenhum outro, mas, simultaneamente, é único como todos os outros! Não é este um paradoxo essencial? Esta natureza ambivalente não faz desta festividade alguma coisa que encanta? As ruas de Zagreb, durante o Natal, ficam iluminadas e o vermelho é a cor mais constante, o que não é uma novidade, como já dito. A hospitalidade daquela gente é tocante, em que pese os traumas e fantasmas de um passado recente, quando da dissolução da Iugoslávia, o que pode ser percebido nas atitudes e reações de muitos habitantes. Mas não vou verticalizar este aspecto. Voltando ao Natal, a ceia vai ficar a dever… No dia 24, depois da missa, voltei para casa onde me aguardava um assado e uma boa garrafa de vinho tinto, Plavacmalicrnovino (em tradução direta: plavacmali é o tipo da uva e crnovino é vinho tinto) e, de sobremesa, um doce grego/turco baklava (algo que não dá pra explicar em palavras). No dia 25, um almoço com a calorosa família Mjelic: com direito a sarma (o equivalente do charuto (feito com repolho)) e pudim de claras queimadas: um acepipe dos deuses. E a calorosa recepção da família. Uma delícia. Minha memória afetiva e gustativa, até hoje, agradecem. Pois então, o Natal aqui como lá, guarda suas delícias. Lá, com o adicional noturno e diurno da neve, o que deu mais “credibilidade” aos festejos, nos parâmetros do folclore que se constituiu com a data. Mas jamais vou esquecer o esplendor e a glória da missa com o cardeal e o rito ortodoxo do Natal. Um pouco desta experiência, aqui relatada pode instigar o desejo de ir até a Croácia, durante o Natal. Quem sabe eu ainda volto lá…!

 

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