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O ilustre amigo de Protógenes

Foi no ano de 1956 que o jovem restinguense Protógenes Solon de Mello procurou os familiares do mais famoso artista da cidade em busca de seu paradeiro na capital carioca. Com o endereço anotado em um pedaço de papel, Protógenes rumou ao Rio de Janeiro com suas malas cheias - de expectativas.

“Eu estava curioso. Queria conhecer ele. Saber o que ele fazia. Então resolvi fazer uma visita a ele no Rio”, relembra o (agora) renomado acordeonista.

“No começo, como ele não tinha ideia de quem eu era, ficávamos passeando pelas ruas do Rio conversando para nos conhecermos melhor. Ele sempre me perguntava sobre Restinga e eu não exitava um só segundo em responder: contava cada detalhe de que lembrava e ele adorava”, narra Protógenes.

“Quando ele veio residir em Porto Alegre ficamos ainda mais amigos. As vindas dele a Restinga Sêca também ficaram mais frequentes. Era revigorante conversar com ele e celebrar o amor que ele tinha por esta terra, pelas pessoas daqui”, confessa em tom nostálgico o músico.

Nas visitas a Restinga, os dois amigos faziam arte:

“Sempre que vinha para cá (Restinga Sêca) ele visitava a Estação Férrea. Foi lá que ele descobriu sua vocação, ainda criança, com os restos de carvão deixados pelo trem que utilizara em seus primeiros esboços”, revela Solon. “Nós íamos à noite para lá, pedíamos a autorização do guarda da Estação para ele dar badaladas no sino. Claro que aquilo era visto por nós como uma brincadeira à época, mas agora entendo a importância para ele dessas pequenas loucuras, por assim dizer”, admite Protógenes que, sempre ao lembrar do amigo que saira muito cedo de Restinga, quando tinha apenas cinco anos, não faz cerimônia em esboçar um sorriso em seu rosto. “A gente também visitava o Buraco Fundo, era um lugar místico para ele”, justifica.

Sendo cúmplice de suas loucuras, em uma de suas visitas na década de 80, Protógenes preparou uma surpresa ao amigo: compôs uma música e a apresentou junto de seu acordeon em um evento no Sport Clube Secco. Na ocasião, o então prefeito Gaudêncio também se fazia presente.

“A canção de nome ‘Maria Fumaça’ homenageia justamente a paixão que ele nutria pelo apito do trem e faz uma referência a essa brincadeira das badaladas do sino. Lembro de ver ele chorando, emocionado, ao escutá-la neste evento no Secco. É um dos momentos mais especiais que guardo de nossa amizade. Foi um privilégio ser amigo do Iberê”, avalia Protógenes Solon de Mello, o maior músico restinguense da história sobre seu laço de amizade com Iberê Camargo, talvez a relação entre os dois mais talentosos restinguenses que se tem notícia.

Entre seus feitos, Solon é o primeiro e único acordeonista no mundo a gravar a abertura da obra “O Guarani” em acordeon e executar e gravar Villa-Lobos. Ao decorrer de sua carreira, lançou ao todo oito discos, apresentou mais de 100 espetáculos em São Paulo e figura no Guiness Book - O livro dos recordes como o artista que no mais curto período de tempo conseguiu se apresentar em recitais em quatro países diferentes no intervalo de 1 dia.

Atualmente o acordeonista vive com sua companheira, a professora Carmem Della Justina, em um apartamento no centro de Restinga Sêca. O local também recebe as aulas do Curso Santanense de Música. Eles estão juntos há 6 anos, logo que Carmem chegou ao município. Além da vida a dois, ela é parceira de Protógenes também no curso Municipal de Música, onde o casal ensina os primeiros passos no mundo da música aos pequenos restinguenses. O projeto atende cerca de 70 alunos de forma gratuita em Restinga Sêca e estima-se que mais de 1000 alunos já participaram do projeto desde sua criação, em 2005.

Nesta entrevista feita pela reportagem do Tribuna no início do mês de março/2019, o músico afirmou ao jornalista J. Cabral que, além de suas façanhas como acordeonista, guarda com igual carinho a amizade com Iberê Camargo - o filho mais ilustre de Restinga, o qual foi confidente por 56 anos e que compartilhou trechos e lembranças deste período neste texto.

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