Tristeza, melancolia, depressão e inverno

                                                                                                                                   Por Prof. Dra. Elaine dos Santos

Os meses referentes à estação do inverno, rigoroso no Rio Grande do Sul, trazem consigo não somente dias frios, chuvosos e nublados, mas também dias de tristeza em uma parcela expressiva da população. Pensando em esclarecer e entender porque esse sentimento acaba sendo sentido mais intensamente nesta época do ano, procurei buscar informações complementares com a Psicóloga Fabiane Schott, para a qual formulei algumas perguntas a fim de que ela pudesse trazer o olhar da Psicologia a respeito desse assunto.

Por que tendemos a entristecer, a nos sentirmos mais abatidos, nos dias nublados?

Fabiane: Episódios que são sentidos mais especificamente nesta época climática do ano, com dias mais curtos, menos luminosidade do sol e mais isolamento, são denominados de depressão sazonal, a qual se refere justamente a um “estado” passageiro e não a algo que está sempre presente ou na maioria dos dias presentes, que seria o transtorno depressivo maior. A depressão sazonal pode ser sentida por algumas pessoas até o início da primavera, quando o sol geralmente retorna com mais frequência.

Quais as consequências e quais as motivações dessas consequências no nosso organismo de uma sequência de dias nublados?

Fabiane: O que ocorre é que, devido à redução dos períodos de luminosidade, há um aumento maior na produção de melatonina (hormônio que regula o sono) e que é produzida em períodos de baixa ou nenhuma luminosidade, e redução na produção de serotonina, que é o neurotransmissor associado à sensação de bem-estar e felicidade, que atinge um nível máximo quando a pessoa é exposta à luz solar. As consequências geralmente resultam em períodos mais restritos, por vezes em casa, tendência a sentir-se mais letárgicos, mais tristes, maior irritabilidade, necessidade de dormir e com maior apetite, com um aumento da ingestão de hidratos de carbono.

O que fazer para “driblar” esses dias sem sol?

Fabiane: Pode-se pensar em reunir-se com amigos ou família em casa ou em locais públicos, assistir a programas ou séries que possam interessar, ir ao cinema, praticar a leitura ou exercício físico, sair para passear com seu pet também pode ser terapêutico, resumindo, buscar fazer aquilo que gosta e que causa prazer com certeza é uma ótima ideia para fugir desses dias cinzentos.

No caso de uma pessoa dita normal, como conviver com dias nublados? E no caso de uma pessoa depressiva ou meramente melancólica?

Há uma diferença considerada substancial em relação à depressão sazonal e ao Transtorno depressivo maior, que reside basicamente no conteúdo dos pensamentos. Explicando: a pessoa acometida por TDM manifesta um conteúdo pessimista, generalista, negativo em relação às pessoas, situações ou ao mundo, essa característica diferencia um diagnóstico de outro. Pessoas deprimidas tendem a sentir-se pior nesta época do ano, já pessoas com depressão sazonal adaptam-se novamente à condição natural conforme segue, caso haja persistência nos sintomas de tristeza, solidão, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, insônia, diminuição ou ganho de peso, entre outros, a busca por um profissional torna-se necessária, podendo não ser somente uma condição passageira.

Se depois de uma sequência de dias nublados, a pessoa se mantém triste, é hora de procurar auxílio ou ela deve "se dar mais tempo" para esperar o organismo reagir?

Cada indivíduo tem uma maneira e um tempo diferente de reagir ou se adaptar às mudanças, sejam elas quais forem, avaliar se o que está sentindo é passageiro ou já faz algum tempo, se pessoas próximas a você apontam alguma mudança também é válido, além de observar os sintomas mencionados antes, se persistem ou se intensificam, e principalmente se você observa mudanças comportamentais relacionadas a hábitos que mantinha anteriormente. Ajuda psicológica e psiquiátrica são aliadas para um diagnóstico correto e eficaz. Depressão tem tratamento.

Fabiane Schott

Psicóloga CRP 07/29245

Atendimentos no Centro Clínico-Rua Moisés Cantarelli, 270