Como lidar com a tristeza no final do ano

O programa do Curso de Letras da UFSM, nos anos em que o frequentei, era bastante abrangente, o que me permitiu abordar a Literatura, minha área preferencial de estudos, sob diferentes enfoques: Sociologia, Filosofia, Psicanálise, Regionalismo. Em virtude disso, o luto sempre foi um tema muito recorrente, especialmente, no que se refere à abordagem da Literatura e Psicanálise. Líamos muito as obras de Sigmund Freud para entender as transformações de ordem psíquica que se operam em alguns personagens singulares da Literatura. Ocorre que personagens são seres humanos que vivenciam experiências e sentimentos no papel (e que se esgotam no papel), mas você aprende a resolver alguns traumas, algumas dores com eles. Além disso, faço psicanálise clínica desde 2003 (antes fazia TCC), aprendi muito sobre os postulados teóricos do Dr. Freud e as formas como tudo isso evoluiu, transformou-se.

Os primeiros anos posteriores à morte da minha mãe foram tempos muito difíceis, extremamente dolorosos, aos poucos, porém, as minhas compreensões sobre o Natal foram mudando. Você lembra como eram os nossos Natais quando crianças? Você lembra a alegria de ganhar presentes simples, mas facilmente “consertáveis” e, no dia seguinte, lá estavam eles, prontos para uma nova empreitada. Éramos ou não éramos felizes. Na verdade, por vezes ainda somos felizes – aquela alegria fugaz, momentânea que as crianças permitem-se dar.

Pois bem, os anos de psicanálise e os estudos de Literatura e Psicanálise colocaram-me muito próxima à ciência que Freud ensejava principiar, a “Psicanálise”. Assim, Freud ensina que a morte de alguém, o fim de um casamento, entre outras razões, são capazes de desencadear um luto, uma tristeza, um sofrimento e que é preciso/necessário enfrentá-lo. O primeiro aniversário sem a pessoa, o primeiro Natal, o primeiro Ano Novo, a primeira Páscoa, o nosso primeiro aniversário, um ano de morte ou separação da pessoa, ou seja, quando se vence um ano de luto, estamos prontos para a renovação, para a retomada, para o recomeçar. Claro que a minha compreensão é leiga, não tenho formação em Psicologia ou Psiquiatria. Ainda assim, eu percebo, todos os anos, o sofrimento experimentado por vários amigos durante o mês de dezembro, quando todos parecem estar felizes e aquela determinada pessoa não se sente feliz: 1. Não se desespere, muita gente odeia esse período, mas finge tão bem que até parece gosta; 2. Você tem o direito de não gostar das festas de Natal e Ano Novo, você tem direito a querer ficar sozinho, sem muita comida, sem muita gente em volta. É um direito seu. Ponto.

Tendo como base essas premissas, eu pedi para alguns psicólogos, amigos pessoais, para que escrevessem sobre esse momento do ano (Natal e Ano Novo), sob as formas como as pessoas sentem-se, as maneiras para superar o mal-estar, a eventual tristeza e, enfim, a resiliência para superar dias de saudade, de frustração, de dor. Claro, contando sempre com um pouquinho de bom senso daqueles que nos cercam.

Professora Elaine dos Santos, organizadora

Psicóloga Rita Viviane da Rosa

CRP: 07\23492

Enfim chegamos ao mês de dezembro, final de um ano extremamente difícil, em que todos passamos por perdas, sejam elas financeiras, amorosas ou até mesmo a morte que chegou para alguém muito querido, ainda assim, nos deparamos com a famosa frase “ Então é Natal”. Sim, e daí? Depois de um ano cheio de dificuldades e frustrações, terei vontade de festejar o Natal. Este pensamento nos faz refletir, sobre o real motivo do Natal e eu não vou entrar no mérito do significado da data, porque isso envolveria inúmeras crenças, e não é isso que esta reflexão busca. Convido a pensar na palavra RENOVAÇÃO.

Se pensarmos que, ao longo do ano, tivemos inúmeras perdas e classificarmos isso a um luto, como podemos fazer a elaboração dele? Precisamos passar pela fase do sofrimento, choro, decepção, mas seguir em frente é difícil, sim, muito. Através das datas comemorativas de final de ano, porém, estes sentimentos afloram com uma intensidade avassaladora.

E enquanto a maioria das pessoas está feliz, ou aparentemente feliz, porque “é Natal”, eu me deparo com tantas dúvidas. Cada pessoa expressa a dor a sua maneira. “A intensidade do luto não só depende da natureza do objeto, como também do valor que lhe atribuímos”, diz José Maria Jiménez Ruiz, especialista em terapia familiar em psiquiatria. Precisamos ficar atentos quanto ao tempo do processo de luto, é considerado saudável passar pelas seguintes fases: confusão, depois raiva e negação, depressão, e finalmente a superação. Se dura mais tempo, os especialistas passam a considerá-lo um luto patológico, é bom procurar ajuda especializada.

Contudo, se ponderarmos todas as nossas perdas e a sensação de luto frente às comemorações de final de ano, todos deveram buscar a RENOVAÇÃO, porque, assim, conseguiremos perceber as novas possibilidades que o ano que se inicia trará, desta forma, estaremos preparados para enfrentar todas as comemorações, mas lembrando de que todos são diferentes e cada um tem a sua forma de resiliência, com isso entenderemos que cada individuo vai passar por situações iguais, mas agirá de forma diferente, de modo que, nesse caso, o importante é o RESPEITO ao tempo e aos sentimentos de cada um.

Fabiane Schott

Acadêmica do 9º semestre do curso de Psicologia /FISMA

É chegada uma das épocas mais carregadas de simbolismo do ano, o Natal e Ano Novo, momento que, para várias pessoas, significa união, estar próximo da família e de quem ama. Não obstante, estas datas em específico trazem consigo muitas reflexões, lembranças e, para muitos, saudade e dor.

Datas comemorativas a exemplo destas são sentidas e vivenciadas de modo diferente para cada pessoa, devido ao fato de possivelmente estarem enfrentando o luto, que pode estar ligado a situações distintas, como a perda de um ente querido, a perda de emprego, situações de doenças na família, rompimento de um relacionamento, dificuldades financeiras e outros. Trata-se de um processo natural e inerente ao ciclo da vida humana.

No caso da perda de um ente querido, alguns fatores podem interferir na maior ou menor dificuldade em aceitar a perda, como a idade de cada um dos membros familiares, incluindo o que morreu; o papel que a pessoa desempenhava na estrutura familiar e o seu envolvimento afetivo.

O processo do enlutamento passa por diversas fases, sendo elas: fase de negação, onde a pessoa pode se sentir desligada da realidade; fase de raiva, onde o sentimento de raiva intenso afeta a pessoa e ela pode auto culpar-se ou culpar outros pela morte; barganha, onde a pessoa começa a negociar consiga mesma, fazendo por vezes promessa para sair daquela situação; depressão, a pessoa pode se isolar e se sentir ipotente diante da situação; aceitação, nesta fase, o indivíduo já consegue aceitar a realidade, conforme ela é.

Cada pessoa terá o seu próprio tempo para lidar com as suas perdas e emoções, alguns superam mais rápido, outros demoram mais. Uma das maneiras de enfrentar esse processo é ressignificar um novo Natal, procurando novas formas de viver estes momentos festivos, onde se integra esta ausência de outras pessoas que ainda estejam presentes na sua vida.

Psicólogo Luis Henrique Alves Souza

CRP:07/23496

Ênfase em terapia Cognitivo comportamental

Especialista em Cuidados Paliativos

As comemorações do final de ano, o clima de alegria, os reencontros e os novos planos geralmente estão associados à felicidade e empolgação Entretanto, para algumas pessoas, é tempo de solidão e tristeza, pois elas não conseguem encontrar motivos suficientes para comemorar. Isso está relacionado a uma série de sentimentos, como saudade e depressão que costumam estar presentes nesta época. A realidade é que para“viver bem”, nos sentirmos inteiros e participantes mundo, precisamos superar a dor e realidade da perda.

A solidão é a ausência ou a falta de algo importante, porém precisamos aprender com ela e não apenas rejeitá-la.

O processo de luto é necessário e fundamental para preencher o vazio deixado por qualquer perda significativa,não necessariamente de alguém, mas também de algo importante, tais como: saúde, dinheiro, relacionamento, viagem, emprego, entre outros.

 É comum evitarmos falar de tristeza e perda, mas a verdade é que passamos muito tempo da nossa vida em grande sofrimento, quando perdemos bens, pessoas, realidades ou sonhos.

A dor só existe porque valeu a pena! Segundo o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) nos diferenciamos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que decorre dela.

A forma que cada um tem de aceitar a perda está diretamente relacionada às experiências ao longo da vida e à maneira como interpretamos, pois é a forma como pensamos que determina como sentimos e nos comportamos (Beck et al., 1997). O mesmo sentimento ocorre com a perda da pessoa em vida, que se afasta por algum motivo, a dor é difícil de ser superada, devido às diferentes interpretações e sentimentos envolvidos, entre eles, a rejeição e o risco da depressão. Porém, o tipo de relação de apego será determinante para o processo de luto.

Ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As relações afetivas são ótimas, quando ninguém exige nada de ninguém e os dois crescem. Assim, sozinhos nos conectamos com nós mesmos. No entanto, saber perder é a arte de quem conseguiu aproveitar e viver plenamente o que ganhou um dia.

Saiba identificar quando procurar ajuda para combater a tristeza e a solidão na época de final de ano:

  1. Sentimentos de ansiedade ou angústia frequente, sem motivo aparente;
  2. Comportamentos de isolamento social;
  3. Dependência química (cigarro, bebidas alcoólicas, narcóticos, remédios...);
  4. Tristeza persistente;
  5. Medos intensos por longo período de tempo e insegurança;
  6. Dificuldade de concentração;
  7. Mudança repentina do peso;
  8. Dificuldade para resolver problemas cotidianos;
  9. Dificuldade com a sexualidade;
  10. Sentimento de culpa;

Estes são apenas alguns pontos importantes de observação, se algo lhe prejudica e você não consegue mudar, procure ajuda para uma avaliação, saiba que, para VIVER BEM, basta investir em você.

Eu, Elaine, considerando que a minha mãe ensinou e exigiu sempre que eu buscasse alternativas para situações e sentimentos, não tive dúvidas, aprendi a lidar com esses sentimentos e, para mim, a solidão funciona como um bálsamo, uma recarga de energia, mas ela não é aconselhada pelos psicólogos e psiquiatras. Se vale um relato de experiência, eu diria: reconheça-se, observe-se, sinta-se e busque aquilo que é melhor para você, não conviva com pessoas que lhe desagradam. Nós temos apenas uma vida, não se deve gastá-la com pessoas desagradáveis, que nos causam mal-estar.