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Sobre a quadra de esportes da Erico

Talvez você não saiba, mas entre meados de 1976 e maio de 1977, um grupo de cidadãos restinguenses engajou-se firmemente para a criação de uma escola de segundo grau. Com a cessação do funcionamento do Colégio Nossa Senhora do Calvário, nós, estudantes, não teríamos ensino médio em Restinga Seca. Eu estava, então, na sétima série e, em casa, houve uma grande apreensão. Em 23 de maio de 1977, a Escola Estadual de Segundo Grau de Restinga Seca começou a funcionar em prédio alugado à Rua Moisés Cantarelli, 368. Entre 1979 e 1981, eu estudei lá. A educação física era feita no pátio da escola, numa ampla quadra de esportes, havendo ainda espaço para corrida, ginástica, salto em altura, salto em distância.

Em 1990, eu voltei à escola como secretária e, em 1992, a 24ª Delegacia de Educação, com sede em Cachoeira do Sul, determinou que toda a Escola Estadual de Segundo Grau Érico Veríssimo deveria desocupar o prédio e transferir-se para a sua sede atual, ocupando o mesmo prédio (com menores instalações que as atuais) que os pequenos da Escola Francisco Manoel. A sala da direção e da secretaria eram uma só, divididas por tábua de forrinho; a biblioteca ficou “apertada” em uma pequena sala de aula; as aulas de educação física eram ministradas no pátio, durante as aulas normais. Como secretária, eu ouvia “boladas” contra a janela da secretária durante toda a manhã, o que se repetia contra as portas das salas de aula. A alternativa eram as corridas e/ou caminhadas em torno do quarteirão da escola. Tornou-se um caso de calamidade pública. Sem contar que, os alunos, nas salas de aulas, em turmas de 31 adolescentes foram “comprimidos” em salas projetadas para crianças. Ah, importante: havia seis salas de aula e, nos anos seguintes, quando “estourasse” a lotação das seis salas de aula, os alunos eram “compulsoriamente” transferidos para o noturno, não havia, naquele tempo, o turno da tarde. Os diretores, naquele período, enfrentaram até mesmo ordens judiciais, afinal, “crianças” com 14 anos eram transferidas para o turno da noite.

Na sequência, decidiu-se que as aulas de Educação Física seriam ministradas no Ginásio Municipal de Esportes. Era, então, preciso liberar os alunos cinco minutos antes (cada professor “perdia” cinco minutos de aula para que eles tivessem tempo para chegar ao ginásio e terem aula), eles seguiam, sem professor, pelas ruas da cidade. Na verdade, eram cinco ou seis quadras percorridas sem qualquer certeza que eles estivessem seguros, as manhãs eram vividas em sobressalto pela equipe diretiva, pedagógica e por nós, da área administrativa.

A Escola Francisco Manoel ganhou a sua sede à Rua Emílio Nagel e, finalmente, a Erico teve um prédio para chamar de “seu”. Houve um significativo aumento das instalações, melhoria do acesso (quantas vezes, encharcamos os pés naquela quadra que “conservava” a água da chuva durante uma semana) e uma das demandas vencidas, em continuidade, foi a construção do ginásio nas proximidades da escola. Nesse tempo, eu já era professora na escola. Trabalhei entre 2000 e 2009, provavelmente, a tal demanda foi vencida faz uns 15 anos, já pode ter baile de debutante! Norton Soares, o vereador, foi meu aluno!

Quando havíamos pensado que o pesadelo chegara ao final, o governo do estado liberara a verba para a quadra de esportes, aquele valor foi empenhado para a reforma de uma parte da estrutura física da escola. Digamos, que foi, sim, uma grande frustração para mim, ex-aluna, ex-secretária, ex-professora.

Na segunda-feira, quando soube, via redes sociais, que a Fundação Antonio Meneghetti estabelecera uma parceria com a escola e...ufaaaa! a Erico teria uma quadra, eu chorei. Eu chorei aquelas manhãs ouvindo gritos e o som das bolas de vôlei, handebol batendo na janela da secretaria; eu chorei aquelas manhãs de apreensão em que adolescentes (filhos do nosso coração) perambulavam pelas ruas em direção ao ginásio, mas eu tinha mais uma razão para chorar, para “lavar a alma”. Desde 2010, eu tenho acesso ao Recanto Maestro, desde então faço leituras de textos de Antonio Meneghetti e conheço a milésima parte de sua obra, mas nunca tive dúvidas, desde aquela época, mesmo contrariando “muitos sábios” da minha comuna, que o Recanto Maestro, a Fundação, a Faculdade e todas as empresas instaladas no Recanto são o grande diferencial que Restinga Seca precisa. Nesse momento, eu emprego a palavra gratidão para duas pessoas: Maria Alice Schuch, que me introduziu no mundo da Ontopsicologia, e “dona” Any Rothmann, de uma sensibilidade ímpar, que não deixou o Norton sem resposta quando ele a procurou.

Agora, falta pouco...para quem já esperou tantos anos, tenhamos paciência, há os trâmites burocráticos, a construção propriamente dita e “habemus quadra”. É uma vitória de toda a comunidade escolar verissiana de ontem, de hoje, de sempre.

Professora Elaine dos Santos

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