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Personalidades restinguenses - Roselâine Casanova Corrêa

“Recuperando memórias”

Roselâine Casanova Corrêa

Infância:

Nasci em São Sepé e, até os 10 anos, residi na Colônia Antão Farias, município de Formigueiro (RS). Em setembro de 1970, os meus pais (Juarez Brum Corrêa e Lélia Maria Casanova Corrêa) mudaram-se para Restinga Seca (RS).

Minha lembrança de então é o apito do trem, pois morávamos próximos à Estação Férrea, em quatro cômodos na casa do senhor Astrogildo de Moraes, que os alugava. Costumávamos caminhar ao longo dos trilhos, eu, meu irmão e alguns amigos (as). Nessas ocasiões, costumávamos não dizer aos nossos pais por onde estávamos, pois, certamente, não nos deixariam fazer esse passeio, para nós, uma aventura e um prazer que guardei com saudade.

Logo depois, nos mudamos para um chalé próximo ao Colégio Nossa Senhora do Calvário, escola em que estudei. Minhas melhores lembranças familiares, no entanto, foram na Rua Ernesto Friedrich, onde nos arrumávamos para os carnavais e boates no Clube Seco ou em alguma cidade da Quarta Colônia de Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Minha mãe à máquina de costura a puntear panos e memórias. Meu pai flanando pela cidade e interior, em seu eterno ofício de transportar pessoas. Mudei-me para Santa Maria (RS), em 1986, onde resido até hoje.

Experiências escolares:

Minha formação em Ensino Básico foi no Colégio Nossa Senhora do Calvário e na Escola Estadual Érico Veríssimo. Lembro-me dos corredores do Nossa Senhora do Calvário com piso cerâmico cuidadosamente encerado e recordo que não podíamos entrar na sala principal, a sala que dava acesso aos convidados da escola. Então, espiávamos, quando tínhamos aula no laboratório de química, que era em frente ao hall de entrada. Havia um lindo jardim, o que propiciava salas de aula com aromas diversos, que lembro até hoje. Ah, o cheiro do jasmim, das rosas, das margaridas.

Da Escola Estadual Érico Veríssimo, lembro de duas professoras: Vera Pinto e Claudete Salerno. A professora Vera, impecável no penteado, no figurino e nas ações, despertou-me a paixão pela História – ciência em torno da qual vim a exercer minhas atividades profissionais. A professora Claudete nos enlouquecia com o Recôncavo Baiano, entre um comentário ou outro sobre o cabelo da Elis Regina, copiado tal qual pela Marlise Cardoso. Claudete usava MAPA (mundi, político, geográfico), algo que até hoje insisto com meus alunos em utilizar, pois lembro que viajava com eles. Tão logo pude, estive no Recôncavo Baiano, local de grande riqueza histórica e cultural. Dona Clau estava certíssima em insistir com o tema.

Juventude:

Havia as festas e as boates, sob o som do The King Som e seus famosos DJs, um deles era o Ilton Nagel. Foi, então, que conheci James Taylor, Neil Young, Abba, Bee Gees e por aí vai. De Raulzito, Rita Lee e Secos e Molhados, sabíamos as letras de cor e de trás pra frente. O ano de 1977 também foi o de “Embalos de Sábado à Noite”, com John Travolta. Anos após (não dá para dar pinta e dizer que foram décadas), encontrando alguns amigos das antigas, como o Gaspar (saudoso, em sua cabeleira), a Angélica, o Toni, nós fizemos um pacto em que constava nunca termos conhecido o Travolta nos “Embalos...”, mas em “Pulp Fiction” (1994)! Nesse tempo, trabalhava no Banco Sul Brasileiro, depois Banco Meridional.

Fiz a Graduação em História no Centro Universitário Franciscano, tenho duas Especializações em História do Brasil (UFSM) e Museologia (UNIFRA). O Mestrado em História foi realizado na PUC/RS. Não cheguei a concluir o doutorado, também na PUC/RS.

Na minha formação acadêmica, contei com vários mestres engajados e preocupados com a formação de seus estudantes: Maria Medianeira Padoin (UFSM), Marta Rosa Borin (UFSM), Lenir Cassel Agostini (UNIFRA - falecida em 2016).  Um em particular – Moacyr Flores – me encaminhou para a pesquisa, apontou um possível tema com documentação em Santa Maria (RS), para facilitar-me, pois, ao mesmo tempo em que cursava o mestrado em Porto Alegre, ministrava aulas no Colégio Objetivo. Flores, ranzinza e sem paciência, funcionou como um pai enquanto estive na PUC/RS: assegurava que eu fizesse o lanche da tarde (sabia que, após a aula, eu voltaria para Santa Maria), me incluía em suas viagens de estudo com os (as) graduandos (as), participava, todos os anos, da Feira do Livro em Santa Maria, sendo que incluía uma visita à Quarta Colônia e aos cemitérios da região. Nessas ocasiões, eu funcionava como sua anfitriã. Outro professor que me marcou para toda a vida: Vitor Biasoli (UFSM). Com ele, me casei.

Trabalho no Centro Universitário Franciscano desde 2004 e coordeno o Curso de História na mesma IES, desde 2009. Nessa instituição, coordenei vários Projetos de Extensão, todos ligados às áreas da museologia ou da preservação do patrimônio. Por essa razão, faço parte do Conselho Municipal da Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Maria (COMPHIC). 

Trabalhar com graduandos (as) em licenciatura é um desafio e um prazer, pois serão eles (elas) os futuros educadores, em um mundo caracterizado pela intolerância, pela bipolarização política e por conflitos mundo afora. Sem contar a gigantesca desvalorização da carreira docente pelas classes dirigentes.

Dos meus afetos mais presentes, tudo o que vivi em Restinga me marcou sobremaneira. Foi nesta cidade que cresci, vivi uma juventude com pessoas que auxiliaram a moldar minhas expectativas, que me ensinaram o valor da amizade incondicional.

De todas as lembranças, meus pais são as mais presentes e voltar a Restinga é quase uma necessidade de sobrevivência. Por algum tempo, pude morar nos finais de semana na casa que foi deles desde o final dos anos de 1970. Essa vivência me proporcionou reencontros, mas, sobretudo, me colocou próxima a eles e a minha própria história.

Se tenho planos, sem dúvida, é retornar a Restinga para morar definitivamente.

Minha bebida preferida? vinho; uma cor? azul royal (mesma da roupa de ‘segundo dia’ de minha mãe); a preferência, em se tratando de flor, é por lírios cor de rosa; a comida preferida é pescados; o meu maior defeito é uma memória prodigiosa que me faz lembrar o que deveria esquecer; uma virtude: perseverança; um vício: o cinema; futebol: o Grêmio.

Mensagem: Em tudo que fizermos deve haver paixão. Do contrário, não vale a pena.

 

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